Servo inútil, eu sou

Por Christopher Vicente, presidente da ABU Natal (RN).

 

Este ano tive o privilégio de participar o Instituto de Preparação de Líderes em Anápolis (GO). Uma experiência inesquecível, que qualquer IPLense poderia descrever muito bem. O evangelho exposto fora o de Lucas, o médico.

Rapaz, nunca tinha percebido a riqueza deste livro. A cada EBI, a cada exposição era um “rebuliço” na alma, mente e coração. Mas, lembro-me que, particularmente, um trecho do livro me chamou a atenção, trecho que, penso eu, nunca parei para ler direitinho e estudá-lo. Este fora Lucas 17.1-10. Meu irmão, que texto, viu?

7 “Qual de vocês que, tendo um servo que esteja arando ou cuidando das ovelhas, lhe dirá, quando ele     chegar do campo: ‘Venha agora e sente-se para comer’? 8 Ao contrário, não dirá: ‘Prepare o meu jantar, apronte-se e sirva-me enquanto como e bebo; depois disso você pode comer e beber’? 9 Será que ele agradecerá ao servo por ter feito o que lhe foi ordenado? 10 Assim também vocês, quando tiverem feito tudo o que lhes for ordenado, devem dizer: ‘Somos servos inúteis; apenas cumprimos o nosso dever'”.

De maneira básica, para chegarmos onde quero chegar, podemos ver que dos versos de 1 a 4, Jesus discorre sobre a relação do pecado e daqueles que levam ao tropeço; depois, dos versos de 5 a 6, Ele comenta sobre a fé; e nos versos de 7 a 10, onde eu quero chegar,… ai, o negócio “esquenta” (foi mais ou menos isso que senti quando li.. ehehe) para algumas posturas minhas e de muitos.

No serviço ao Senhor – e nós abuenses, pela Graça de Deus, sabemos o que é isso por temos este privilégio de servir ao Reino –, encontramos uma série de riscos para nossa vida e relacionamento com o nosso Senhor. Riscos que vêm quando não entramos com uma postura correta sobre nós mesmo e a quem servimos.

Sempre me questionei de uma coisa, desde cedo, quando Cristo me trouxe até Ele. Era uma ideia que alguns irmão mais velhos sempre me disseram: “meu irmão, Christopher, Deus vai lhe recompensar por você ser assim, tão envolvido na obra…” ou “Nunca vi um jovem que serve ao Senhor não ser abençoado…”. E eu ficava matutando sobre isso.

Não estou desconsiderando que Deus queria abençoar aos que o servem. E digo mais, se nós o servimos da maneira correta, certamente, já somos abençoados e felizes, pois estamos cumprindo o propósito ao qual fomos criados, a saber: Glorificá-lo. Contudo, não posso achar, ou engajar-me na obra, achando que se sirvo a Deus, Ele tem de me abençoar.

Não são salário as bênçãos de Deus, são Graça. Pois, ainda que O servíssemos em toda nossa existência (incluindo a Eternidade), nunca seríamos dignos de algo dEle. É pelo Seu amor e Graça que Ele derrama suas bênçãos, tanto espiritual quanto material sobre nossas vidas. Não por merecimento.

Outra coisa que me incomodava era o pensamento que vinha ( e ainda vem, pois não estamos isentos dele, que Deus nos ajude a manter a mente na verdade) de achar que sou melhor, ou que estou fazendo a mais do que outros, por isso seria mais espiritual, ou mais digno das bênçãos e atenção do Senhor.

Opa, opa… não… Isto é um pensamento de puro cunho pecaminoso, isso é orgulho e soberba.

Diante destas coisas, quando li o texto, veio em minha face aquilo que a galera chama de “Txibufiii” (um tapa na cara e no orgulho).

O simples exemplo e, como em muitas parábolas e ensinos de Cristo, corriqueiro ao povo, do servo servindo ao seu senhor (e não quero, nem há espaço para entrar em questões culturais mais específicas). E, Jesus faz uma pergunta retórica aos que o ouviam, a qual dá a entender que eles já sabiam a resposta.

O servo vem do campo – veja só –, onde já estava servindo ao senhor (“arando ou cuidando das ovelhas”), e não é chamado para comer antes do senhor, mas a servi-lo, depois é que ele pode comer e beber. Agradecer? O senhor não vai agradecer ao servo por ter feito o que lhe foi ordenado (obrigação). Dessa mesma forma será conosco (discípulos, a quem Jesus ensinava); devemos dizer: “Somos servos inúteis; apenas cumprimos o nosso dever”. Apenas… não fiz nada de mais. Fiz o meu dever.

E concluo três posturas que tenho de tomar diante disso. Não é me orgulhar, me achar melhor, achar que receberei algo em troca, ou que seria o preferidinho de Deus, nem ficar murmurando por que não estão vendo o que faço e nem estão me reconhecendo – isto, se de fato faço para Deus. Mas, primeiramente, reconhecer. Reconhecer que não sou útil por mim mesmo; não tenho nada para dar ao Senhor (“Somos servos inúteis…”). Segundo, entender que a utilidade que tenho é Deus quem me dá; pois, se sou inútil, mas fiz algo, é porque o meu fazer foi dado pelo Senhor; é Ele quem nos dá dons e talentos. E, terceiro, apenas cumpri meu dever. Apenas, apenas, tão somente… não sou melhor, ao contrário, estaria muito enganado e errado se não cumprisse o meu dever (por isso não somos melhor que ninguém, quer “sirvamos muito” na igreja, quer sejamos jovens envolvidos em movimentos cristãos).

Depois deste texto, passei a me policiar mais quanto a minha postura ante o serviço do Senhor. Ainda caio muito, mas que pela Graça de Deus, Ele nos ajude a vencer o pecado (da soberba, do achar que Deus me deve algo) e a servi-LO com toda a disposição naquilo que Ele nos chamou e incumbiu.

Acima de tudo, uma coisa fui chamado a ser antes de qualquer coisa: CRISTÃO, nova criatura à Sua imagem e Semelhança.

Christopher Vicente, presidente da ABU Natal (RN).

 

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