Até quando teremos trotes violentos?

As aulas já começaram em diversas universidades, em outras iniciarão nas próximas semanas. Nesta época os grupos da Aliança Bíblica Universitária (ABU) organizam a recepção dos novos estudantes: elaboram guias, apoiam nas programações, oferecem água e acolhimento (veja outras ideias neste texto). Enquanto em muitas universidades é um momento divertido, em outras os estudantes se deparam com situações de abuso e violência.

Nos últimos anos, casos conquistaram a mídia e universidades passaram a punir estes atos, o que diminuiu os abusos. Mas os trotes violentos ainda ocorrem, e “abafar situações” é uma prática comum. Ao vermos esta realidade podemos ecoar em oração a voz do profeta Habacuque:

“Até quando, Senhor, clamarei por socorro,
sem que tu ouças?
Até quando gritarei a ti: “Violência!”
sem que tragas salvação?
Por que me fazes ver a injustiça,
e contemplar a maldade?
A destruição e a violência estão diante de mim;
há luta e conflito por todo lado.
Por isso a lei se enfraquece,
e a justiça nunca prevalece.
Os ímpios prejudicam os justos,
e assim a justiça é pervertida.” – Habacuque 1:2-4 (NVI)

Vendo a injustiça

Numa cidade do interior de São Paulo, embora a situação esteja melhor em relação ao passado, os estudantes da ABU contam que há trotes violentos psicológica e fisicamente. A descrição do que acontece mostra que não são brincadeiras: “Falar para o ‘bixo’ [termo para calouro] que se ele não se fantasiar para uma festa ele não vai ter amigo, obrigá-lo a ficar bêbado e comer coisas estranhas, agredir com tapas, não deixar dormir ou tomar banho, as meninas não podem usar brinco senão enfiam a cabeça na privada, os meninos não podem usar cueca senão toma ‘cuecão’.”

“Trotes mais pesados em si acontecem nas festas e nas repúblicas mais velhas que seguem ‘tradições’, e uma parte da galera está ‘acostumada’.”

A faculdade toma ações – já expulsou estudantes e realizou processos administrativos. Mas há dificuldades: poucas denúncias chegam por meio das vítimas, muitas vezes envergonhadas e com receio de prejudicar-se. Outras vezes, há pressão dos agressores. Quando algo é denunciado é comum ser abafado, até pela preservação das vítimas, mas ao não encarar a situação ela acaba se repetindo.

Abusos contra mulheres são comuns entre os relatos dos abeuenses desta e de outras cidades. Em 2018, houve dois casos de estupro neste campus. “Um deles foi uma bixete [caloura] que acabou passando mal na festa e os caras a estupraram. E o pior foi que, ao falar para as meninas da república, elas abafaram e depois a expulsaram. Tentamos abrigá-la e até ajudar financeiramente, porém, como foi muito sigiloso, não conseguimos.”

O grupo pediu para não ser identificado porque muitas pessoas o veem como confiável e recorrem aos estudantes pedindo ajuda. Eles não querem expô-las, com razão. Alguns abeuenses, por exemplo, agem pessoalmente, retirando calouros à força das repúblicas quando sofrem trotes pesados e os veteranos lhes impedem de sair.

Álcool é uma marca constante dos trotes, mesmo quando não são violentos. As bebidas surgem como forma de celebração, mas em muitos casos as pessoas extrapolam. Uma participante da ABU Pombal (PB) relata que “os trotes começaram a ficar pesados no sentido de haver muita bebedeira descontrolada por parte da organização. No período passado, teve ‘fera’ [calouro] entrando em coma alcoólico…”.

Assim como ABU’s por todo o país, os estudantes da cidade paulista organizam a recepção dos novos estudantes. “Fazemos uma recepção virtual [procurando os aprovados nas redes sociais e escrevendo para eles], parabenizando e oferecendo ajuda, e nisso conseguimos adotar o pessoal para ficar nas repúblicas e casas da ABU. Depois fazemos um café para conversar com eles e também um culto.” Nas pequenas atitudes, o grupo busca ser luz em meio à violência tradicional. É o chamado feito há quatro anos pelos participantes do Instituto de Preparação de Líderes de 2015, quando escreveram uma carta sobre os trotes violentos (leia no Blog da ABUB).

A partir de Habacuque, ore:

  • Até quando veremos tanta violência? Clame a Deus por acolhimento para os novos estudantes! Que eles não encontrem violência na entrada na universidade e, se encontrar, que Deus possa os livrar ou encaminhar a quem possa ajudá-los. Clame para que esta cultura seja transformada!
  • Ore para que o amor de Jesus seja a marca dos grupos de ABU na recepção dos calouros. Que eles sejam luz quando ao redor houver escuridão. Que atuem firmemente para transformar os trotes de suas realidades. Que Deus lhes chame a serem atuantes nesta questão, seja com ações nas festas e repúblicas, ou até mesmo frente à instituição em que estudam. Ore para que, assim, sirvam em amor ao seu contexto estudantil.
  • Peça que a justiça seja feita, que as instituições possam punir agressores e encorajar o fim desta cultura violenta. Que as vítimas sejam atendidas com justiça e amor, sem prejudicar seus anos de estudo pela frente.

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