Por Giovanna Amaral, secretária de administração e comunicação em saída*
A palavra era estranha, mas eu fiquei deslumbrada ao conhecer uma missão que me chamava a “encarnar” o evangelho. Aos poucos, compreendia que era um caminho de integralidade e de viver com naturalidade a fé na universidade. Me aproximava da Bíblia sem medo, com curiosidade e liberdade, pois “Ele [Cristo] é antes de todas as coisas, e nele tudo subsiste” (Colossenses 1:15, NVI).
Colar cartazes nos inúmeros murais do campus e convidar meus colegas para um estudo bíblico era um desafio enorme. Tímida, me sentia exposta ao ridículo. E embora semana após semana ouvisse ‘nãos’ e lesse xingamentos e piadinhas nos cartazes, eu sentia que fazia muito sentido experimentar tudo aquilo. Ninguém me obrigava e ninguém me via. Não tinha cargos eclesiásticos ou expectativas familiares. Era uma atitude apenas minha e me sentia corajosa e reavivada pelo Espírito Santo.
No grupo local da Aliança Bíblica Universitária (ABU), eu me sentia aceita. Parecia que retornava ao meu país e com meus compatriotas que falavam a mesma língua. Em cada treinamento (local, regional ou nacional), eu era desafiada e voltava animada para responder ao que havia aprendido.
O tempo se passou, as experiências foram intensas e singulares. Não havia planejado nada além de servir como assessora auxiliar no grupo local de Goiânia (GO) após meu curto tempo como estudante abeuense. Mas após um ano e meio de formada, em 2007, tive a oportunidade de servir o escritório nacional da ABUB como assessora de comunicação, na cidade de São Paulo (SP).
Em meio aos desafios, os caminhos eram cheios de significado e alegria. E ao fim de alguns dias de júbilo, após chegar no escritório nacional, eu estava em lágrimas.
Encontrei um escritório vazio. Havia poucos obreiros nacionais e eles não estavam lá. Haviam apenas muitos papéis de outros tempos. Contraditoriamente, não encontrei um lugar livre, nenhuma mesa ou gaveta vazia. O Escritório tinha mais passado que presente.
Eu chorava porque me sentia só. Me sentia completamente inadequada para ser uma assessora de comunicação e algo mais. Na verdade, era mais ‘algo’ do que uma assessora de comunicação. Em toda minha história eu nunca havia me sentido tão incapaz e inadequada.
O que parecia perfeito contrastou-se com o real e me via perguntando a Deus qual era o motivo do castigo!
Me lembro que, em meio a uma crise de choro, o Espírito Santo falou para mim: “Pense nos primeiros discípulos de Jesus”. Me veio à mente os pescadores, homens simples com suas vidas ordinárias e suas famílias comuns. Eles foram chamados para servir com tudo o que tinham. Suas habilidades e suas inabilidades. Seus dons e suas tolices.
Mesmo depois desta lição do Espírito Santo, eu ainda não tinha habilidades de secretariado, administrativas, financeiras, de gestão de evento, de design e de programação.
Mas eu cri que o Senhor não me havia castigado, mas me chamado para um desafio. Então, em meio ao medo passei a clamar a Deus e a pedir que ele me desse mais fé, perseverança e também capacidade – especialmente de identificar necessidades, pensar em possibilidades e comunicá-las. Além disso, o que mais pedia era que ele enviasse pessoas.
Foram 13 anos repetindo esta mesma oração (e digo que devo continuar a fazê-la como apoiadora da ABUB). Pela infinita graça, Deus a atendeu!
Ele me ajudou a caminhar. Ele enviou mais pessoas. Muito mais do que eu podia imaginar.
Em alguns momentos, Deus me usou para convidar pessoas para servir no escritório. Em outros, me sentindo esgotada e sem esperança, ele as enviou por seus próprios caminhos e pela ação dos meus pares. E tantas outras vezes fomos supridos, se não socorridos, pelo suporte do trabalho de incontáveis voluntários.
Também acreditei que os recursos financeiros necessários viriam de mais pessoas. Acreditei com muita força que seria indispensável investir na mobilização de recursos por meio de uma assessoria dedicada, especialmente no caso da ABUB, em que a maioria das doações se faz com o contato e engajamento de pessoas.
De fato, Deus nunca me disse que eu seria superpoderosa ou me daria um dia de 36 horas para lidar com as demandas. Ele age por meio de sua igreja! É assim que vemos em sua Palavra e na história.
O que quero dizer para você que é parte de qualquer esfera da ABUB é que eu aprendi que Deus dá o crescimento. E o dá como ele quer. Não são nossas habilidades que serão responsáveis pelo crescimento. É o agir de Deus.
Me lembro até hoje das palavras do pastor Ziel Machado (que foi secretário geral da ABUB e hoje é presidente honorário da IFES) no culto de 60 anos da ABUB (foto acima do evento): “Deus não é obrigado a manter a ABUB viva. Deus está comprometido com o seu Reino”. Aquelas palavras me impactaram, pois muito facilmente nos colocamos no lugar de Deus e acreditamos que é nossa obrigação manter a ABUB viva, e decidir o que faz parte do Reino de Deus agora. Me senti incomodada e pude reconhecer o meu pecado de buscar em mim mesma forças e controle para prosseguir servindo na missão. Ao mesmo tempo, foi muito libertador saber que não era meu esforço que manteria a ABUB viva ou não!
Obviamente não se trata de uma defesa para uma posição acomodada, irresponsável ou preguiçosa. Mas de caminhar e crer. Perseverar e cultivar a esperança. Assumir medos, erros e fracassos. Acredito ainda que Deus não dá o crescimento sobrecarregando ou exaurindo pessoas. Se a obra é dele e deve permanecer, ele manda mais pessoas e nos capacita mais. Às vezes a poda é necessária, pois estamos desnutridos e ensimesmados.
Me despeço neste Uma volta pelo movimento afirmando que meu desejo e minhas orações são que Deus dê crescimento e muito mais frutos à ABUB. E que cada um de vocês, estudantes, obreiros, diretores e assessores creiam de todo seu coração que o crescimento vem de Deus.
*Giovanna formou-se em jornalismo enquanto participava da ABU Goiânia, trabalhou na área e em 2007 foi servir ao movimento nacional como assessora de comunicação. Ela se mudou para São Paulo solteira, hoje está casada e é a mãe dedicada e amorosa de dois filhos. Na Secretaria Executiva, liderança de nosso movimento, ela serviu como secretária de comunicação e, depois, secretária de administração e comunicação, chefiando a equipe do escritório nacional (hoje composta por quatro pessoas). Em dezembro de 2020, Giovanna deixa nosso movimento para viver novos desafios. E nós nos sentimos extremamente gratos por termos sido abençoados por 13 anos com seu serviço, seu amor e seu esforço incansável. Agradeça a Deus conosco pela vida e pelo serviço da nossa querida Gi.