Grupos em estruturação: três aprendizados de Kristiansand

Por Carlos Oliveira*

Prédios da Universidade Kristiansand

Prédios da Universidade Kristiansand

Estive por quase dez meses na Noruega participando do intercâmbio da ABUB em parceria com a NKSS Noruega (movimento estudantil semelhante ao nosso, também filiado à IFES). Parte do meu trabalho foi acompanhar a liderança do grupo local em Kristiansand, cidade onde morei em minha parte prática. Na foto está a entrada da universidade de lá.

A realidade do grupo aqui não é muito diferente de alguns grupos brasileiros: encontros semanais com frequência de cinco a dez pessoas, um líder muito dedicado ao grupo, alguns poucos membros dispostos a ajudá-lo e o desafio de ser cristão na universidade pela frente.

Eu e David, companheiro da UCU Colômbia (o movimento de lá), acompanhamos mais de perto o Marcos (nome alterado para preservar a identidade do estudante). Tivemos o privilégio de, durante seis meses, acompanhar sua trajetória como líder do grupo local. A partir dessa experiência, gostaria de compartilhar três aprendizados sobre a caminhada com grupos locais que estão se estruturando.

1. FOCAR NAS ATIVIDADES CERTAS

“Todos se dedicavam de coração ao ensino dos apóstolos, à comunhão, ao partir do pão e à oração.” (Atos 2:42, NVT)

Marcos tinha um sonho para o grupo: desejava que eles fossem verdadeiros cristãos na universidade. Mas como influenciar o grupo quando este tinha apenas uma reunião semanal e que mais se parecia com uma refeição entre colegas do que um compartilhar entre irmãos?

Fomos desafiados pelo texto de Atos: ensino dos apóstolos, comunhão, partir do pão e oração. A partir dele, a ideia proposta pelo grupo foi de um estudo bíblico durante o almoço. Muito simples: trinta minutos, três perguntas e pessoas dispostas a refletir sobre a Palavra de Deus. Me lembro bem dos primeiros encontros. Tínhamos oito participantes e ao ler a Palavra seus olhos brilhavam, palavras saltavam das páginas e suas vidas eram desafiadas. Deus estava entre nós e sua palavra trazia vida. “Por que não fizemos isso antes?”, eles se perguntavam.

  • Como tem sido as reuniões de seu grupo local? Como elas podem ser transformadas pelo texto de Atos?

 

2. PERSEVERAR NAS DECISÕES TOMADAS

“E, a cada dia, o Senhor lhes acrescentava aqueles que iam sendo salvos.” (Atos 2:47b, NVT)

Grupo de aula de espanhol no qual Carlos serviu também em Kristiansand

Após três estudos bíblicos começaram as semanas de provas na universidade. Todos estavam ocupados e Marcos se sentia cansado. E assim fomos ao estudo. Tivemos somente quatro participantes, muitas distrações e poucos compartilhares. “Acho que os estudos não estão funcionando”, ele comentou.

David e eu incentivamos Marcos a perseverar, pois nossa experiência nos dizia que a oscilação no número de pessoas é normal e os estudos bíblicos nem sempre são “mágicos” como haviam sido os primeiros. “Na Colômbia passei meses fazendo estudos bíblicos somente eu e mais um amigo”, comentou David. Ressaltamos para o Marcos a importância da constância e da qualidade dos estudos bíblicos. Era o Senhor quem traria novos participantes.

Infelizmente, após seis encontros – com muitas pausas e pouca esperança entre os que participavam – os estudos na universidade foram cancelados. Ainda me pergunto como teria sido o futuro dos estudos se a visão de Marcos fosse diferente, ou se ele tivesse avaliado os encontros por outra perspectiva.

  • Por quanto tempo você tem perseverado ao iniciar uma atividade? Por quais critérios você tem avaliado o “sucesso” dos encontros de seu grupo?

 

3. CONFIAR NO SENHOR DA MISSÃO

“Jesus se aproximou deles e disse: ‘Toda autoridade no céu e na terra me foi dada. Portanto, vão e façam discípulos… E lembrem-se disto: estou sempre com vocês, até o fim dos tempos.” (Mateus 28:18-20, NVT)

Ao assumir o grupo local, lembro-me dos primeiros comentários de Marcos: “Vai ser um ano difícil. Perdemos o Mauro (líder anterior) e eu não tenho muita experiência como líder. Não sei como vai ser”. Ele, apesar de muito capacitado, sempre se comparava ao líder anterior como se fosse uma meta a ser cumprida, e por isso buscou com o máximo de suas forças realizar todas as atividades possíveis e carregar toda as responsabilidades do grupo. “Me sinto como se fosse o único trabalhando para o crescimento do grupo”, comentou desanimado.

Resolvemos então compartilhar algumas de nossas experiências com ele. Lembramos de Jesus, como o Senhor da missão, como o responsável pelo crescimento, como o único que de fato poderia sustentar o grupo e, por fim, que ele sempre estaria conosco, até o fim dos tempos.

Após algumas semanas, Marcos parecia mais aliviado. Algumas prioridades haviam sido revistas. Deus havia levantado novas pessoas dispostas a engajar-se com o grupo. E assim acabou nosso trabalho em Kristiansand e a missão na universidade continua.

  • Em quem seu grupo tem confiado? Lembre-se de quem é o verdadeiro Senhor da missão!

 

*Carlos é estudante de engenharia mecânica na Universidade de São Paulo (USP) em São Carlos (SP) e está voltando depois de participar do intercâmbio na Noruega e ter aulas no Hald Internasjonale Senter.

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