Por Tony Campollo²
Tradução: Marcus Vinicius Matos
Há dois mil anos atrás pregaram nosso Jesus na cruz. Há dois mil anos atrás, pregaram-no e o puseram em exposição, como fazia a tradição Romana. Há dos mil anos atrás, com sua morte, um milagre aconteceu. Como uma esponja, ele absorveu os pecados de cada um de nós. Ele que não cometeu pecado, se tornou pecado. A boa notícia é que todos aqueles que crêem e confiarem nele não serão punidos pelos seus pecados, porque na cruz ele foi punido em nosso lugar. E não fosse isso suficiente, nossos pecados foram apagados, conforme dizem as Escrituras, enterrados nas profundezas do mar, esquecidos. Não há outro nome pelo qual nós somos salvos a não ser o nome de Jesus. Esse Jesus que morreu há dois mil anos atrás na cruz, esse Salvador que é o único caminho para nos afastar do pecado, é um Jesus ressurreto. E ele se aproxima de nós hoje.
Eu não estou chamando você a ser religioso. Eu estou chamando você a pegar a sua vida e dizer hoje a noite, “Jesus, eu te amo. Eu te amo tanto, eu quero você tome minha vida e me use em alguma coisa especial. Eu quero que você me envie para aqueles lugares onde você quer que eu vá. Estou aqui. Me leve. Se é na África, que seja. Se é na Filadélfia, que seja. Se é Buenos Aires, que seja. Se é Calcutá, que seja. Eu irei onde você quiser que eu vá, Senhor. Eu sou seu.”
O Jesus bíblico quer empregar você no lugar onde ele poderá usá-lo no seu nível ótimo. Por que tem que ser além mar? Porque a América já está lotada. Nós formamos tantas pessoas nas universidades por aqui hoje em dia que nossa sociedade não consegue empregar a todos. Você não tem que ir trabalhar na “General Motors”. Ela vai sobreviver sem você. Você também não tem que ser um médico nos Estados Unidos, eles já médicos suficientes. E você certamente não precisa somar-se a multidão de advogados na América.
O que eu amo em “Star Trek”³ é a nave Enterprise sumindo na escuridão e a voz dizendo, “audaciosamente indo onde nenhum homem jamais esteve”. Eu estou aqui para dizer pra você ir onde ninguém foi antes, fazer o que ninguém fez, ser o que ninguém jamais foi. Ser missionário é difícil. Mas a maioria das alternativas é bem fácil. Se você quer ser um Yuppie, tudo bem. Só é chato, apenas isso. O que eles fazem? Trabalham a semana inteira, chegam em casa, entram na Jacuzzi e falam uns aos outros das suas maravilhas.
Na última cena de A Morte do Caixeiro Viajante quando eles descem Willie Lowman na cova, a esposa dele diz, “Bif, Bif, por que ele fez isso? Por que ele se matou? Por que ele cometeu suicídio? Por que ele fez isso, Bif?” E Bif responde: “Ah, que pena mãe. Ah, que pena, ele tinha os sonhos errados. Ele tinha os sonhos errados”. Se há algo que se possa dizer dessa geração, é que vocês têm todos os sonhos errados.
Se você quer ser um professor, porque ficar em um lugar onde não precisam de você? Por que não permitir que Deus o leve até o lugar onde você é absolutamente essencial? Se você quer ser um médico, por que não ir onde você será desesperadamente essencial? Por que alguém gostaria de ser um médico num lugar onde nem metade de seus pacientes está verdadeiramente doente, quando você pode ir para um lugar onde a vida e a morte de centenas de pessoas vai depender de você diariamente?
Eu sou como o velho Oswald Smith. Eu não entendo porque alguém tem que ouvir o evangelho duas vezes antes que todos tenham a chance de ouvi-lo pela primeira vez. Entregue sua vida a Jesus. As necessidades são imensas. Se você acha que não pode ajudar, você está louco.
Uma vez fui chamado para ser conselheiro em um acampamento cristão de juniores. Todos deveriam ser conselheiros em um acampamento de juniores pelo menos uma vez. Se há algum Católico aqui, vocês estão certos, existe um purgatório. Nós tentamos de tudo para explicar a essas crianças o que era o evangelho. Mas nada funcionou. O conceito de se divertir dos juniores é azucrinar os outros. E nesse caso, naquele acampamento, havia um garoto com paralisia cerebral, e eles foram mexer com ele.
Eles encarnaram no pequeno Billy. Como eles encarnaram nele. Conforme ele andava com seu corpo descoordenado, eles se punham em fila e imitavam os movimentos grotescos do garoto. Eu fiquei olhando para ele um dia enquanto ele veio até mim e perguntou na sua voz devagar e arrastada, “Onde fica a loja de artesanato?” E os garotos responderam imitando a sua voz e seus movimentos, “é para lá Billy”. E riram dele. Foi revoltante.
Contudo meu furor chegou ao limiar máximo quando na quinta-feira pela manhã, quando foi o dia do quarto do Billy fazer o devocional. Eles indicaram o Billy para falar. E enquanto ele se arrastava no caminho até o púlpito, era possível ouvir as risadas rolando por toda a platéia. E levou quase cinco minutos para o pequeno Billy conseguir dizer “Jesus…ama…a…mim….e…eu….amo…Jesus”. Quando ele terminou, houve um silencio mortal. Eu olhei para trás e havia juniores chorando por todo o lugar. Um reavivamento havia acontecido.
Conforme eu viajo pelo mundo, encontro missionários e pregadores em todo canto que dizem, “lembra de mim? Eu me converti naquele acampamento de juniores”. Nós havíamos tentado de tudo. Nós trouxemos até jogadores de baseball que passaram a acertar mais a bola depois que começaram a orar. Mas no fim, Deus resolveu não usar as celebridades. Ele escolheu um garoto com paralisia cerebral para quebrantar os espíritos da desdenha. Ele é esse tipo de Deus.
Entregue sua vida a Jesus não importa como você seja e não importa o que você pode ou não pode fazer. Ele quer ter você. Ele quer preencher você. E quer usá-lo no trabalho do Reino.
¹Excerto do texto “The urgency of the call”, de Tony Campolo. Este texto foi traduzido para publicação no site de formação do “Missão 2006” – Congresso Missionário Estudantil da ABUB. Publicado originalmente em inglês: KYLE, John E. (org.) Urban Mission: God’s Concern for the City. Intervarsity: Urbana, 1998, 192p.
²Tony Campolo é pastor batista, professor catedrático do departamento de sociologia e ministro da juventude do Eastern College, e membro do Conselho de Referência do SPEAK Network.
³Referência à seriados e filmes conhecidos no Brasil como “Jornada nas Estrelas”.