No mês de janeiro, estudantes do Brasil inteiro participaram do Instituto de Preparação de Líderes da Aliança Bíblica Universitária. Caso você esteja interessado em participar no ano que vem, na página de recursos da região já está disponível a lista de livros pré-requisitados.
Esta é uma reportagem, mas também é uma reflexão feita em conjunto, a partir das entrevistas e conversas acerca desse processo de vida que é o IPL. Há muito mais do que foi colocado aqui, que talvez resultariam em textos mais profundos, mas te desafio a saber mais sobre isso de uma forma mais relacional: converse com quem já foi ao IPL sobre suas experiências! Garanto que aprenderá muito ouvindo essas pessoas magníficas, assim como aprendi.
Junto do texto, também há o vídeo, onde podemos ouvir algumas dessas palavras.
Um tempo atrás, frente a uma desistência de ministério por parte de um querido irmão da igreja, eu usei a seguinte frase para tranquilizar o pastor: “Veja a crise como algo bom. Desconfie quando tudo parece estar perfeitinho demais, pois Deus trabalha intensamente quando a verdade é revelada”. Devo ter copiado essa frase de alguém, provavelmente de algum preletor de um Conselho Regional ou coisa assim. Posso dizer que no IPL pude entender o real significado disso- e não apenas eu! Todos os depoimentos dos participantes de nossa região, e também de outros que vivem mais longe, revelam grandes intersecções em relação ao que foi aprendido com as experiências.
Crise é uma coisa boa! Geralmente ela acontece quando se percebe que o mundo não é o ideal, e nós não estamos bem colocados nele; quando olhamos para nós mesmos e percebemos que não somos adequados. Ela revela o que há de mais profundo em nosso coração: se há egocentrismo, isto é externado numa pequena revolta infantil, algo parecido com a atitude de Jonas, ou as várias contendas que podemos ver nos meios eclesiásticos. Onde há um coração piedoso, a crise gera verdadeiro quebrantamento e crescimento espiritual, baseados na dependência e confiança em Deus. Nesses corações, surgem pérolas como: “acho que o recado dEle é tenha fé, espera aí, calma aí, confiar mesmo e esperar é o jeito” (Dâmaris Bacon), ou “Aprendi muito sobre humildade, serviço, e em tudo isso dependência de Deus, mas ainda preciso aprender muito. Isso não é o fim, mas apenas um recomeço de caminhada” (Ana Elizabete Machado), ou também “Por um lado venho deprimida, porque Deus nos mostra nossas falhas, mas por outro lado com uma vontade muito grande de aprender de Deus, de crescer, de ser melhor” (Sylvia Bacon).
Quando somos postos frente a Verdade, as verdadeiras motivações por detrás das nossas atitudes são evidenciadas. Ana Machado, de Goiânia, diz que um tema que a tocou especialmente foi “sobre o orgulho o que talvez seja um outro lado de uma mesma moeda da falsa humildade” e também sobre ” servir por amor a Deus, ao Reino, as pessoas, seja a sociedade, a família, a igreja ou mesmo a ABU. Sempre servir por amor e não por obrigação, por ideologias, ou seja lá o que for”. Dâmaris revela que “Deus falava sobre muitas coisas que eu queria segurar fazer por mim mesma […] acho que minha maior dificuldade é aquele salmo que diz: Espera no Senhor, confia nEle e Ele agirá”. Assim, ao ser revelada nossa tentativa de auto-suficiência, Deus trabalha nossos relacionamentos, com Ele e com o próximo, para que aprendamos novamente a viver como um corpo, que tem um Cabeça.
“Quando você olha só para você mesmo e começa a ver o tanto que você é ruim, e de fato é, você acaba negando a cruz, o que Deus pode fazer, o poder dEle para te transformar, esse é um lado da falsa humildade quando você se deprecia ao extremo esquecendo que Deus pode trabalhar e consequentemente a gente também, essa foi uma das coisas que falou muito comigo mesmo.” Ana Elizabete Machado
Esse aprendizado ganhou uma conotação de serviço nos grupos de parte prática. Se somos um corpo, é no serviço que isso se evidencia ao trabalharmos em comunhão, como corpo de Cristo. Ana Machado conta que o mais importante para ela nessa etapa do treinamento “foi ver o próprio grupo formado por pessoas que não se conheceram nas duas primeiras semanas do IPL e só se reuniram por causa da parte prática se tornando amigos que se preocupam um com o outro.”
A igreja católica e universal é o corpo de Cristo, e se alguma parte sofre, todo o corpo padece. Dâmaris conta experiências interessantes dos dias de parte prática:
“Na parte prática a gente foi para uma igreja mas que é Seminário também. Lá existem alguns trabalhos de ação social, então a gente foi para dois projetos deles. Um deles era numa cidade carente ali perto de Goiânia, onde eles têm um acampamento para trabalhar com as crianças. É um trabalho já reconhecido nas redondezas, e as pessoas recebem bem eles ali. Nós fizemos evangelismo pessoal, visitando casas […] No outro dia fomos a outro projeto deles ali no lixão em Goiânia, num trabalho que eles fazem com as famílias que moram ali, e aí já foi bem impactante porque o local que a gente tinha ido no dia anterior já era carente e você já se incomodava com algumas coisas vendo as pessoas naquela situação, mas no lixão é muito pior! No lugar anterior ainda se mantinha uma esperança, uma dignidade humana; mas no lixão isso é mais difícil. Fizemos um trabalho com as crianças ali, e às vezes comentávamos depois entre o grupo ‘faz sentido a gente estar aqui vestido de palhaço, que isso traz, essas crianças nunca vão sair dessa condição, nunca vão ter oportunidade de estudar, ou algo do tipo?’ Só crendo em Deus mesmo para haver uma esperança, nesses momentos é onde vemos nossa total impotência diante das coisas, e que se não for por Deus mesmo a situação é irreversível.” Dâmaris Bacon
Muito do que me marcou também foi a união que o grupo teve, desde a preparação, e foi muito necessária essa união de um corrigir o erro do outro e se preocupar. Num certo dia, após o evangelismo na feira onde muita coisa deu errado, nós ficamos abalados e nos reunimos numa casa, em volta de uma mesa, e começamos a lavar roupa suja ali. Foi muito bom quando começamos a desabafar e nisso a gente ficou bem amigo, e aprendemos muito um com o outro. Aprendi muito a ouvir e trabalhar em conjunto, confiando e dependendo de Deus.” Weinne Santos
“Ficamos no Instituto Cristão Evangélico Goiano, um abrigo da Igreja Cristã Evangélica para assistência às crianças desamparadas ou órfãs, no geral de lares desestruturados, localizado em Anápolis. Foi difícil com pouco tempo, poucos recursos, captar a atenção e a confiança das crianças, ter disciplina, mas realizamos uma EBF (escola bíblica de férias) limitada de dois dias, com sucessos e falhas, oramos com os pais e familiares durante o período de visitas dos mesmos ao abrigo, saímos com os adolescentes para a igreja e depois pizzaria. Foi muito bom o entrosamento de nossa equipe, o nosso compartilhar dos pontos positivos e das frustrações. O ouvir funcionários, crianças, adolescentes e principalmente voluntários me marcou muito. Me abriu a mente um pouquinho para a visão de Deus, como Deus trabalha, como Deus usa as pessoas.” Sylvia Bacon
Uma das coisas mais magníficas de se observar no corpo de Cristo é ver suas similaridades nas diferenças. Segundo Dâmaris, “às vezes eu ficava surpresa, como pessoas de lugares diferentes conseguem te compreender de tal forma, […] que parecia que somos irmãos. E somos, irmãos em Cristo, e o Espírito Santo liga as pessoas.” Também para Ana e Sylvia os relacionamentos foram importantes. Ana diz que “além do grupo de parte prática, onde tive pessoas que gostei de conhecer, que pude aprender com as diferenças, a me calar, ouvir; também teve as meninas do quarto, pessoas muito especiais com quem pude compartilhar muitas coisas durante o tempo que passamos juntos, amizades eternas, que ficaram marcadas no coração e na minha vida. Muita oração, amizade de alma mesmo” Sylvia conta que leva “aprendizado, maior visão, amizades, boas conversas, vivência de pessoas com visão espiritual tanto de obreiros como de estudantes”. Realmente é magnífico viver uma união assim, onde vivemos e aprendemos juntos nessas três semanas. Comunhão essa onde se descobre que temos muito em comum, mesmo com diferenças denominacionais ou distâncias geográficas. É a multiforme graça, fazendo grande variedade na igreja de Deus.
Claro que as palestras, exposições e oficinas fizeram um grande impacto nas nossas vidas; mas creio sinceramente que o grande diferencial vêm do confronto que todo o conjunto, palavras e relacionamentos, nos traz. Como disse no início do texto, a crise nos revela a verdade, e assim somos trabalhados intensamente. A quem pretende fazer (ou não) o IPL 2013, deixo então essa percepção: de que o IPL é um treinamento que abala muito mais que o campo das ideias. Essas três semanas promovem um aprendizado prático, espiritual, e eu recomendo que quem o faça esteja de ouvidos bem abertos, muito além de somente escutar os preletores. Faça silêncio e deixe Deus falar. A verdade não apenas esteve aqui, mas se revela a nós, pessoalmente.