O IPL – e a minha vida após aqueles dias
Já falamos dos nossos encontros com a Verdade. Falamos do que aprendemos sobre depender e se entregar. Já escrevemos sobre como demos de cara com Deus – aleluia! – nos rostos do outro ali do nosso lado. Escrevemos sobre como aprendemos que o silêncio cria a ocasião de rejeitar o agitar-se nosso de cada dia para estar com nosso Pai e receber o pão de que tanto necessitamos.
E mesmo quem não falou nem escreveu, sorriu ao se lembrar de que esteve com Jesus. De que conheceu mais do mestre estando no lugar da mulher pecadora que lhe lavou os pés com lágrimas e os enxugou com seus cabelos – o grande amor que resulta de um grande perdão. De quando sentiu o Seu toque ao se perceber leproso, enfermo, rejeitado – quem mais encostaria assim em nossas doenças? De quando recebeu o seu olhar – que olhar! Seu maravilhoso olhar! – de compaixão após ser curado de um fluxo de sangue – e só Ele sabe como transformar cada estilhaço de nossas vidas estraçalhadas. E até ao vê-Lo nos acusando por sermos os fariseus, o irmão mais velho, os propagadores de uma falsa verdade – ainda assim recebidos nos braços de um pai que sempre nos espera pela porta do arrependimento.
Naqueles dias de IPL Deus visitou o seu povo. Deus visitou sua filha que agora escreve e atendeu o grito de desespero de uma mulher pecadora que percebeu que não conhecia de fato aquela pessoa que é a Verdade e que esteve aqui. Antes daqueles dias o meu choro era pela dor de perceber que há 12 anos andava ouvindo histórias sobre a Verdade que esteve com outros sem aproveitar as oportunidades de ver que Ela estava também comigo. No meu muito falar, no muito agir, no muito fazer a obra – pobre Marta! – eu rejeitei a melhor parte. Meu pedido antes de ir para o IPL era só um: tem compaixão de mim, Filho de Davi, me cura da minha surdez – me faça muda se preciso! – mas deixa eu te ouvir. E Deus visitou sua filha.
Depois daqueles dias, já em casa, me dei conta de uma das verdades mais básicas do Cristianismo (e peço perdão se parecer muito infantil). Em um estrondoso silêncio Deus me mostrou: Jesus vive em mim. O encontro com Jesus não tem fim. Sshhh… você consegue ouvir duas pessoas andando juntas? As horas passam… sshhh… E agora? Elas continuam caminhando. Sshhh… um riso, um choro, uma conversa – silêncio… elas nunca se separaram!
Já se vão dias desde o fim do IPL fim do mundo. Logo após o retorno, ele nem parecia ter acabado. Nas leituras que fiz, nos filmes que vi, nas conversas que tive – tudo eram aqueles dias que ainda ressonavam e só podia ser Jesus guiando tudo isso – quem mais seria tão carinhoso assim? Mas duas semanas depois muito desse ar devocional já partiu para outras bandas. Nada mais previsível, infelizmente, do que a queda lenta depois de picos tão altos de dedicação à espiritualidade. Depois daqueles dias, já houve mais de um dia em que a leitura bíblica começou quase 2h da madrugada e terminou em roncos, já houve muita oração interrompida por outra atividade qualquer, já houve preguiça de acordar cedo e ir à recepção de calouros. Já houve orgulho de ser visto como alguém importante na ABU, houve egoísmo, houve insensibilidade, houve preconceito. E nesses dias de agora, com menos silêncio reflexivo e mais agitação só uma esperança me consola: Ele ainda está aqui! Sshh… ouça o vento no meio do trânsito, veja a brisa entre os prédios da faculdade, sinta os barulhos no coração – duas pessoas conversam, um pobre ansioso é consolado. Só Ele tem o jeitinho para transformar tanto pó em pequenos cristos. De Glória em Glória. Ele sempre estará aqui! Aleluia!
*A idéia desse texto surgiu depois de ouvir a canção Querer te amar, do Gerson Borges, na voz da Carol Gualberto. Ela me levou de volta ao IPL e trouxe o IPL de volta aos meus dias, que já andam tão agitados. Vale a pena parar, fazer silêncio, ouvir e refletir.