Eu quero aprender a chorar mais…

Por Reinaldo Percinoto Junior, Secretário Geral da ABUB, em período sabático.

 

“Nossas lágrimas revelam-nos a dolorosa e devastada condição humana; elas nos conectam profundamente à inevitabilidade do sofrimento humano… Elas confessam nossas limitações, nossos pecados e nossa condição de mortais”.1

Henri Nouwen

27 de Janeiro de 2013. A notícia da tragédia em Santa Maria (RS) interrompe nosso Domingo, que poderia ter sido mais um como outro qualquer. Mas não foi.

À medida que as informações e as imagens iam sendo atualizadas, nossos sentimentos de impotência, tristeza e indignação cresciam na mesma proporção. Quantos corpos sem vida estendidos na calçada; quantos estudantes que já não voltarão às aulas; quantos sonhos precocemente asfixiados. Difícil conter as lágrimas diante disso tudo.

Mas eu quero aprender a chorar mais… Chorar mais pelas nossas juventudes, dispersas em boates, hospitais, presídios e periferias das nossas cidades. Chorar mais pelas nossas juventudes, vítimas majoritárias da violência em todas as suas manifestações cruéis, sejam por ações ou omissões, da sociedade ou do poder público. Chorar mais pelas nossas juventudes estudantis, que tantas vezes acabam se enquadrando na imagem pintada há muitos anos pelos “Engenheiros do Hawaii”: como uma banda numa propaganda de refrigerantes, nesta terra de “gigantes”.

Muitas pessoas ainda veem o choro e o pranto apenas como sinais de fraqueza. Para elas chorar não adianta nada. O que importa é agir. Mas, nos Evangelhos, por duas vezes nos surpreendemos ao nos depararmos com o choro de Jesus. Ele chorou sobre Jerusalém (Lucas 19:41), e também diante da morte de seu amigo Lázaro (João 11:35).

As lágrimas de Jesus não revelam apenas sua real humanidade, mas também sua humanidade Real. Revelam seu pesar e seu desejo como Redentor, diante da realidade que precisa de redenção.

Em Jesus não havia antagonismo entre “choro”e “ação”. Henri Nouwen, inspirado por estes textos dos evangelhos, nos ensina que “nossas lágrimas oferecem o nobre contexto para a ação compassiva… E sem elas nossas ações bem intencionadas para a criação de um mundo melhor terão um resultado contrário àquele que desejamos, e se tornarão expressões de raiva e frustração”1.

Eu quero aprender a chorar mais. E você?

E assim quem sabe, mais cedo do que podemos imaginar, iremos experimentar a promessa de nosso Senhor: “Bem aventurados os que choram, pois serão consolados”! (Mt 5:4).

Reinaldo Percinoto Junior
Secretário Geral da ABUB, em período sabático, mas “antenado no mundo”.
1. Henri Nouwen, Caminhar com Jesus, 1990.

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