Por Uziel Amorim, ABU Juiz de Fora.
“E, havendo dito isto, pôs-se de joelhos, e orou com todos eles. E levantou-se um grande pranto entre todos e, lançando-se ao pescoço de Paulo, o beijavam, entristecendo-se muito, principalmente pela palavra que dissera, que não veriam mais o seu rosto. E acompanharam-no até o navio.”
Atos 20:36-38
“Por que o estudante gaúcho chorou, ao se despedir? Eram rapazes e moças chorando porque sabiam que tão logo não voltariam a conviver como fizeram naqueles dias, em Souzas. Foram duras semanas de intenso trabalho, de estudo, de oração e discussão.”
Neusa Itioka (1)
A última citação registra a atmosfera na despedida do Instituto de Preparação de Líderes (IPL), em 1971. Paro um pouco para pensar que momentos como este têm sido, por tanto tempo, rotina nos finais dos encontros e treinamentos na Aliança Bíblica Universitária do Brasil (ABUB). Se singelas ações podem demonstram ou simbolizar grandes coisas ou sentimentos, o que estaria por trás do choro, da tristeza, do beijo e, acima de tudo, da saudade que se aproximava para aqueles estudantes?
Tempos antes de ler a última citação me deparei com a história de Paulo em Éfeso a partir da leitura de Atos (recomendo a leitura do capítulo 18 ao 21). Paulo, antes de ir embora da cidade, estava de joelhos, como registra a primeira citação acima, e orou com todos os presentes. Creio que nesse momento ninguém, por mais forte que fosse, conseguiu não se emocionar ao ver que, de fato, Paulo estava dando adeus. Nesses instantes acredito que um abraço ou um beijo são intrigantes. De um lado revelam a tristeza pela distância que há de vir, por outro demonstram a alegria e o amor diante de tantos momentos alegres e de aprendizado. A partir disto, é interessante ver que o abraço, o beijo, o choro não surgiram sem uma história e, no caso específico, tal história foi realizada através do árduo trabalho de Paulo em Éfeso, nos bons e nos maus momentos. Penso no coração apertado daquelas pessoas que, através do discipulado e da convivência diária, amavam Paulo com sinceridade, entretanto não mais o veriam.
Creio que momentos únicos, como esse, têm de ser valorizados, pois demonstram que algo muito valioso foi feito. Desta forma podemos valorizar não só um determinado resultado, mas também o processo (de aprendizado e comunhão) pelo qual passamos. Os laços de amizade, outrora impensáveis, foram concretizados a partir de ensinos bíblicos. Pessoas tão diferentes foram unidas e se completaram para expressar que Cristo é o Senhor. A missão perpassa por laços de comunhão em Cristo. A saudade ainda pode gerar bons frutos como uma boa preocupação, por exemplo, em constantes pedidos em nossas orações. Boas amizades e relacionamentos se desenvolvem com mútua oração. Posso ter uma amizade razoável com você, porém, se eu orasse (mais) por você seríamos irmãos.
É natural o desejo de ficar perto das pessoas que são especiais para nós, porém, por vezes, é bom passarmos por esses momentos que Paulo e os IPLenses de 1971 viveram. Isto evidencia que o bom Deus nos concede a oportunidade de termos amigos de alma a partir de laços construídos no serviço do Reino. Muita saudade tem sido sentida por aqueles que têm descoberto o legítimo e genuíno amor. A missão nos envolve e, mesmo com as distâncias, a missão em Cristo nos faz um e nos aproxima. Provera Deus que a saudade, no melhor sentido possível, faça parte do cotidiano, e entre os grupos locais da ABUB, devido ao constante serviço na nossa missão
(1) Neusa Itioka. Encarnando a Palavra Libertadora: um breve histórico da Aliança Bíblica Universitária do Brasil. 1981.