Por Luiz Adriano Borges
Em um final de tarde típico da capital paranaense, com um friozinho, tivemos a oportunidade de nos reunirmos para um debate com Vinoth Ramachandra, secretário para Diálogo e Engajamento Social da Comunidade Internacional de Estudantes Evangélicos (IFES, sigla em inglês), sobre cristianismo e a defesa dos direitos humanos.
Organizado rapidamente, aproveitando a passagem de Ramachandra por Curitiba, o encontro mostrou a agilidade de mobilização do Grupo Base local através das redes sociais. Já de início deve-se parabenizar a equipe envolvida, tanto o apoio recebido na figura de Patrick Timmer, secretário geral adjunto, quanto de vários membros da Aliança Bíblica Universitária (ABU) em Curitiba.
A discussão aconteceu na Igreja Batista Independente, uma igreja bastante aconchegante, com um grupo pequeno, mas muito disposto a participar. De início, Ramachandra provocou os universitários presentes perguntando se direitos humanos seria somente uma questão teórica ou se eles pretendiam se envolver. A participação dos estudantes quebrou o frio daquela tarde. Na sequência, Ramachandra passou a definir o que seriam direitos humanos, apontando que o direito é uma demanda legítima e comentando que uma sociedade justa é aquela onde as pessoas têm acesso aos bens que lhes são garantidas por lei. Assim, seria um desafio para qualquer Teoria do Direito estabelecer porque se tem acesso a determinadas coisas e não a outras. Assim, deve-se fazer duas perguntas iniciais para perceber se um direito é legítimo ou não. Primeira: é um direito legal? Como por exemplo, quando a lei estipula um salário mínimo e se eu recebo menos, meu direito é violado. Segunda: é um direito natural? Como no caso do direito dos pais sobre os filhos. Pais têm certos direitos sobre os filhos que outras pessoas não têm.
Os direitos humanos entrariam em uma classe especial, uma vez que não é definido por lei, mas atribuído a mim simplesmente por eu ser humano. E o que é muito importante enfatizar: não se trata de gênero, raça, nacionalismo, ou classe social, trata-se de direitos por as pessoas serem humanas. O palestrante passou a delimitar o que pode ser entendido por direitos humanos, procurando resolver algumas confusões. Participar no governo, por exemplo, é um direito civil e não humano.
Ramachandra também criticou a ideia de que o que estaria no âmago da questão do valor humano seria a racionalidade. Aqui se cai na antiga falácia humanista de que haveriam pessoas que exerceriam a racionalidade melhor do que outras, que seriam mais racionais e portanto teriam valor maior.
Para os cristãos, o que define o valor humano é que fomos criados à imagem de Deus e iguais. Não depende de contribuições à sociedade, nossa cor ou outros parâmetros.
Para Ramachandra, como cristãos, temos dois desafios:
1) Não ser seletivo em quais direitos nós protegemos e quais nós ignoramos. Temos que atentar para os direitos humanos em toda a sua extensão, desde o nascimento até a morte. Desde o feto (contra aborto), passando pelos pobres, até ao aquecimento global, pois é o estilo vida dos ricos que produz o aquecimento.
2) Ser consciente. Por exemplo, o direito de escolha das mulheres implica em escolha contra o direito de outros seres humanos, as crianças. O direito a vida se sobrepõem a outros direitos.
A defesa dos direitos humanos impõe também uma dupla responsabilidade. A primeira para o cristão é praticar o que prega. Se todo ser humano é amado por Deus e tem um valor aos olhos de Deus, por que não somos mais ativos por lutar pelos que tem seus direitos negados? A segunda responsabilidade é conversar com os não cristãos quem têm essa linguagem de direitos humanos e buscar que eles mudem suas crenças para que essas sejam coerentes com suas práticas, uma vez que, para Ramachandra, não existe uma base secular para os direitos humanos.
Portanto, temos um chamado para lutar pelos direitos humanos, logicamente cada um segundo seu chamado. Como afirmou Ramachandra:
“Como universitários devemos aproveitar este período da vida, integrando nossa vida com o cristianismo e a vida prática. Participar de debates, procurando fortalecer nossa visão cristã de todas as coisas [Uma boa ideia é uma maior participação da ABU em debates “seculares”]. É um momento de formar convicções cristãs profundas que vão acompanhar para o resto da vida. Às vezes é até problemático se envolver muito com outras coisas para além da universidade, pois acabamos não formando uma mente cristã fundamentada. O melhor é utilizar o tempo para estudar, relacionando o conhecimento com a fé cristã.”
Somos parte do corpo. Cada um tem diferentes dons. E deixou um alerta importante nesse sentido: o período da universidade é um período chave para estabelecermos nossa cosmovisão. É essencial que criemos uma base sólida de conhecimentos na universidade que sejam pesadas em relação ao que cremos. Não adianta na época da faculdade querer participar de todo projeto que surge em prol dos direitos humanos, pois “estudar sem agir é ruim. Mas também é ruim agir sem estudar”.
Foi um momento muito importante para quebrarmos alguns paradigmas que tínhamos (como constatei com conversas pessoais) e para fomentar algumas ideias para atuações futuras. Uma tarde excepcional, durante a qual tivemos a graça de Deus de ouvir palavras de confrontação e de incentivo. Com certeza saímos todos muito influenciados e com a cabeça cheia de plano. Que tenhamos mais oportunidades como esta.
Graça e paz!
Luiz Adriano Borges
Assessor auxiliar em acompanhamento – ABU Curitiba