Por Sarah Nigri de Angelis, secretária geral da ABUB e serviu como assessora da região Sul de 2012 a 2014.
Sabemos que a ABU é um movimento de estudantes cristãos e que a universidade é nosso campo missionário, certo? Também sabemos que a missão estudantil possui peculiaridades e não pode ser compreendida, simplesmente, como uma extensão dos ministérios eclesiásticos. Afinal, a universidade tem uma cultura própria, se comunica por meio de uma linguagem específica e seus debates acadêmicos requerem certa preparação e qualificação dos participantes. Construir pontes com a universidade e ser uma voz cristã neste contexto são nossos grandes desafios como ABUenses!
Recentemente, tive o privilégio de observar como um grupo de estudantes, da cidade de Pelotas (RS), se mobilizou para responder a estes desafios. Antes de qualquer coisa, eles pararam e “mirarán”, ou seja, olharam atentamente para a universidade, para a cidade, e perguntaram: Que questões são mais sensíveis e relevantes aqui? Qual o perfil dos estudantes e moradores da região? Que conhecimento e que arte vem sendo produzidos na universidade e na cidade? Como podemos cruzar as fronteiras, construir pontes e promover diálogos?
O resultado dessa “mirada” e dessa reflexão foi o ¡Mira!, um festival de arte e cultura que, ao longo de uma semana (21 a 25 de outubro), promoveu diversas atividades enfocando, como eixo, a identidade latino-americana. Foram realizadas exposições artísticas, oficinas, shows e apresentações musicais; debates que trataram de temas como racismo e xenofobia; segurança alimentar e agroecologia; democracia e participação; gênero e arte; cinema e memória; além da exibição de documentários e curtas que deram destaque à produção de artistas locais.
Tudo isso foi feito pelos estudantes (com a ajuda de uma assessora local, da ABU de Porto Alegre) em parceria com a Universidade Federal (UFPel), com a Prefeitura de Pelotas, a Secretaria de Cultura, a Biblioteca Municipal e também com a CIEE (Comunidade Internacional de Estudantes Evangélicos) que aprovou o projeto e financiou parte das atividades. O ¡Mira! também foi reconhecido como um projeto de extensão da universidade, o que possibilitou a emissão de certificados e, inclusive, o custeio de passagens e deslocamentos de alguns estudantes e artistas. Houve participação de profissionais e professores (de dentro e fora do RS; sendo cristãos e não cristãos) e de estudantes (também cristãos e não cristãos) que vieram de vários lugares (RS, PR, SC, MG, RJ, etc.) para contribuir com a programação e abrilhantar o festival.
Como mencionei acima, participar do ¡Mira! e observar como os estudantes de Pelotas souberam aproveitar suas oportunidades de engajamento com a universidade foi, para mim, um grande privilégio e uma experiência muito rica! A partir dela, pude refletir sobre a missão estudantil (tão peculiar!) e vislumbrar as diversas possibilidades de parceria com a universidade que, infelizmente, muitas vezes não valorizamos.
O grupo da ABU-Pelotas me ajudou a “mirar” com mais sensibilidade não apenas a universidade, mas o mundo ao meu redor. Pude perceber as diversas expressões da graça comum e recordar que a defesa da vida, a luta por justiça, a expressão da beleza através da arte e a proclamação da verdade estão presentes para além dos “redutos cristãos” e em lugares inesperados. Como disse João Calvino em suas Institutas: “Se cremos que o Espírito de Deus é a única fonte da verdade, não vamos rejeitar nem desprezar a verdade, não importa aonde ela seja revelada, para que não ofendamos o Espírito de Deus.” Portanto, que aprendamos a acolher com humildade a verdade proclamada à nossa volta.
A universidade precisa estar na nossa ¡mira! sempre! Que o Senhor nos ajude a olhar o mundo com compaixão e sensibilidade e que aprendamos a ver os reflexos de Sua imagem e da graça comum em todos aqueles que nos rodeiam. Amém!