Sobre o trote e a violência na Universidade

“Aprendei a fazer o bem; atendei à justiça, repreendei ao opressor” Isaías 1.17

 

Os recentes relatos sobre o trote ganharam visibilidade na grande mídia, tanto com a CPI das Universidades como também com os casos criminosos de violência, entretanto essa cultura da violência tem se propagado ao longo dos anos, no momento de entrada dos alunos na universidade. Em discussão levantamos reflexões sobre nosso papel enquanto Testemunhas de Cristo neste ambiente, de como temos reagido a essas rotineiras práticas de violência, opressão e forças de morte.

Criticou-se o trote, visto como ritual de passagem da dita sociedade comum para o ambiente universitário, no qual o “animal” que ali se insere necessita aprender a “trotar”. O problema não são os “ritos de passagem”, mas a forma e os significados que eles assumem no contexto universitário – espaço este que devia ser de acolhimento e recepção e que se transforma em atitudes de opressão, desmoralização e violência.

Queremos expressar por meio desta carta aberta, enquanto estudantes que testemunham Cristo na Universidade, nossa denúncia e inconformação a qualquer tipo de atitude violenta, desmoralizante, preconceituosa e pautada em valores hierárquicos que tem dominado as práticas abusivas dos trotes. Não corroboramos com a lógica opressora que legitima um tratamento agressivo e humilhante seja para com aqueles que ingressam na vida acadêmica, ou os já alunos.

Também, dentro dessa lógica do trote, cabe uma reflexão sobre a universidade, enquanto espaço estranho e intocável ao restante da sociedade. Este espaço que é visto por muitos como o lugar do saber e inacessível, onde uma elite mais emancipada e consciente se separa dos cidadãos comuns. Neste sentido, pensamos que nossos vizinhos deveriam ver a universidade como veem a praça: um espaço de troca, relacionamento, interação e acessível a todo e qualquer cidadão.

Nós questionamos o porquê de não sermos submetidos a nenhum trote (violento ou solidário – Somos contra o trote solidário que toma forma de assistencialismo sem proposta de continuidade durante o ano todo) quando vamos à praça, o porquê de não precisarmos ser pintados e ou obrigados a “fazer elefantinho” em nossa primeira visita à casa de um desconhecido para podermo-nos “enturmar” com ele. Ainda assim, as questões parecem ser mais profundas envolvendo questões de gênero, racismo, xenofobia, homofobia e intolerância religiosa. Crimes muitas vezes silenciosos e uma estrutura de poder que justifica todos os excessos – se ampliando até a vida profissional posteriormente.

Que a universidade não seja um lugar outro, dominado pelo sentido de superioridade, mas um espaço de serviço à população, de oferta de conhecimento e cultura. É nessa lógica que denunciamos o trote que mascara e perpetua o sentido de superioridade e hierarquização dos que entram na Universidade.

Vemos que a discussão sobre o trote possibilita desmascarar “forças de morte” que atuam nos espaços acadêmicos, que selecionam pesquisas cujo fruto é o lucro de poucos, que não incentivam projetos de extensão, não fornecem uma formação mais integral do ser humano. É nesse sentido, que também questionamos a prática do trote solidário com imposição aos calouros de campanhas de doação de sangue ou alguma outra ação social, que na realidade não seguem durante o ano, demonstrando a superficialidade da ação.

Acreditamos que nós da ABUB, devemos levar essa pauta que está diretamente ligada a nosso espaço missionário e refletir sobre isso, seja através de denúncia, repreendendo os opressores, buscando práticas de acolhimento que demonstrem a vida e a realidade de transformação que há na cruz de Cristo. Sim, somos chamados para sermos agentes de reconciliação, e levar para a Universidade e suas práticas onde dominam forças da morte, o poder do amor e vida que há em Cristo.

Sigamos firmemente na Missão, na nobre tarefa de propagar os valores do Reino de Deus, semeando o amor e justiça.

 

Assinam essa carta alguns estudantes do Instituto de Preparação de Líderes 2015, cujo tema foi “E sereis minhas testemunhas”.

 

Gustavo Marchetti – Mestrando Educação Física / UFES

Déborah Vieira – Letras / UFPel

Marcio Lima – Mestrando Arquitetura / USP

Thayla Marques – Psicologia / UFTM

Vanessa Santos – História / UFBa

Luiz Gonzaga – Engenharia / Unifei

Thais Kétura – Direito / UFERSA

Leandro Lima – Direito / UCAM

Rafaela Roberto – Terapia Ocupacional / USP

Marcos Paulo – Medicina / FEMPAR

Gabriel Marcelino – Música / USC

Barbara Siqueira – Psicologia / UFU

Paulo de Tarso Pupio – Engenharia Bioquímica / USP

Tarcísia Carolina Duarte – Pedagogia / UFV

Ana Carolina Rodrigues – Engenharia Sanitária e Ambiental / UFG

Gustavo Caralli – Engenharia Civil / USP

Michelle Corrêa – Ciências  Biologicas / UNESP

Luana Rosa – Arquitetura / PUC

Heitor Barboza – Engenharia Ambiental / UNESP

Jhonny Lancaster – Psicologia / UFPR

Lizandro Bravo – Intercambista Equador

Nátali Cristofólli – Psicologia / UFTM

Marcos Abrão Borges – Psicologia / UFMA

Anna Flávia Gomes – Direito / Unimontes

Raquel Bastos – Letras / UFV

Gabriela Martins – Medicina / UFJF

Geiziane Oliveira – Engenharia Sánitária e Ambiental / UFPA

Lucas Bivar – Engenharia Civil / UFSC

Camila Azcutia – Geologia / UnB

Paulo Gomes – Engenharia de Segurança e Trabalho / UNIFEI

Ana Elisa Crispim – Psicologia / UFTM

Videnicio Reis – Engenharia Civil / FIPMoC

Jordana Regina – Letras / UFLA

Asaph Jacinto – Mestrando em Nanociências e Materiais Avançados / UFABC

Jade Silva – Serviço Social / UFOP

Natasha Fernandes – Nutrição / FEMPAR

Laila Pereira – Direito / PUC

Ana Leticia Vieira – Engenharia de Minas / UEMG

Raíssa Emily – Nutrição / FAVIP

Gilvan Mota – Engenharia Civil / UFPE

Laura Spadarotto – Medicina / UFJF

Josué Machado – Relações Internacionais / Unicuritiba

Viviane Dias – Direito / UEL

Ana Karolina Marques – Arquitetura / UFES

Rodrigo Gabi – Administração / UFRRJ

Marcella Gonçalves – Medicina / UNOESTE

Kennedy Matias – Direito / UNIPÊ

Guilherme Matsuo – ABS Ribeirão Preto

Emily Monteiro – Relações Publicas / USP

Ana Eliza Oliveira – Nutrição / UFVJM

Juliana Navarrette – Psicologia / UNIFESP

Leon Souza – Filosofia / UFBa

Mariana Nunes – Medicina / PUC

Kesia Caroline – formada em História / UEFS

Fabricio Mendes – Ciências Sociais / UNESP

Giovanni Barbon – História/UFU

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