Estudantes podem mesmo alcançar outros estudantes?

Por Jessica Grant

“Muitos se sentem desencorajados por pensarem que a Aliança Bíblica Universitária (ABU) não funciona. Mas gostaria de dizer que sim, a ABU funciona, a ABU alcança pessoas. Deus alcançou minha família através da ABU, alcançou a mim.” Foi assim que Matheus Shibakura iniciou seu relato no Encontro de 60 anos da Aliança Bíblica Universitária do Brasil (ABUB), realizado em junho. Ele integrava um dos painéis e havia sido convidado para contar sua história de conversão no movimento universitário, já que um dos objetivos da nossa missão é que os estudantes cristãos possam alcançar seus colegas nas escolas e universidades de todo o Brasil para que conheçam o evangelho de Jesus.

Em sua família, natural de Mogi das Cruzes (SP), Matheus não foi o primeiro a ser alcançado pelo movimento estudantil. Sua irmã mais velha, Paola Shibakura, entrou no curso de direito na Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Franca (SP) em 2013, e lá conheceu a ABU. “Cheguei em Franca e não tinha lugar pra ficar, não conhecia ninguém, [mas] meus pais queriam muito que eu já voltasse para Mogi das Cruzes com algum lugar em mente para morar. Quando fui fazer a matrícula, na segunda chamada, não tinha ninguém do Centro Acadêmico para pedir informação sobre o Adote [programa de acolhimento ao novo estudante]. No corredor, encontrei minhas veteranas e uma delas era abeuense, além da Mariko Hanashiro [uma abessense que tinha acabado de entrar na universidade e já estava acolhida pela mesma abeuense]. [Elas] falaram que eu podia ficar com elas um tempo e esse foi meu contato inicial com a ABU.” Paola ficou três meses morando com a veterana e Mariko e frequentou a festa de recepção, uma reunião do grupo local e os estudos bíblicos. Ela se interessava pela ABU por causa das amizades, especialmente Mariko, com quem continuou morando. “Comecei a ficar curiosa sobre cristianismo, fé, Bíblia, a figura de Jesus e tudo mais. Sempre fazia perguntas para Mariko e ela me indicava livros ou lia alguma passagem para explicar. Foi a partir dela, principalmente, que comecei a me interessar mais; por ela sempre estar disposta a escutar minhas dúvidas e explicar”, conta.

No fim de 2013, o grupo a convidou ao Conselho Regional (CR) em Dourados (MS). Eles queriam tanto que ela conhecesse e entendesse mais o movimento que pagaram todos os custos. No CR, Paola teve um contato maior com a ABU e com pessoas de outras cidades. A estudante participou de oficinas que lhe ajudaram a entender o cristianismo, como a de Bases de Fé. O responsável era o então assessor auxiliar Higor Valin. Paola ficou com muitas dúvidas, principalmente quando falavam sobre Jesus Cristo e seu sacrifício. “Fui conversar com ele depois, e ele me explicou. Conversei também com a Mariko e alguns outros”, lembra. “[Eles falavam] como isso tem um significado e um reflexo, e trouxe um reflexo pra mim. A partir disso posso dizer que minha caminhada cristã começou”, compartilha. “Saber o que Deus fez por mim e tudo mais, e como isso tem consequências tão positivas para mim, me fez realmente acreditar. Acreditar no que aquelas pessoas que estavam no evento acreditavam.” Com o passo da fé, Paola continuou acompanhando o grupo da ABU Franca em 2014 e procurou uma igreja. Ela continuava estudando com a ajuda de Mariko, aprofundando sua fé. Em casa, a conversão foi motivo de estranhamento. Apesar de seu pai ser de tradição católica e sua mãe ter interesse no espiritismo e budismo, os Shibakura nunca foram muito religiosos. Antes, Paola também não tinha muito interesse. Já Matheus tinha suas próprias ideias. “Eu sempre acreditei em Deus à minha maneira. [Então] teve uma fase na adolescência que deixei de acreditar em Deus, até os 17 anos. [Deixei] porque não fazia muita diferença pra mim”, conta o estudante.

Era Matheus quem mais zombava Paola porque ela frequentava o grupo da ABU. Seus pais também brincavam, todos reproduzindo o preconceito com evangélicos. Depois da conversão, Matheus ficou incrédulo: “Ele questionava muito sobre o porque eu acreditava em Deus, se Deus existia, que não tinha porque acreditar nisso”, diz Paola. “Para mim isso era uma questão bem definida, que Deus não existia mesmo”, lembra Matheus. Em 2014 foi a vez dele precisar de ajuda para encontrar um teto em Ribeirão Preto (SP), onde entrou no curso de odontologia da Universidade de São Paulo. Como deixou para ver em cima da hora, Matheus aceitou a sugestão de sua irmã de escrever para as pessoas de Ribeirão que ela conhecia. “Eu já estava meio desesperado.” Um dos contatos era de um profissional que participou da ABU e que arranjou para que Matheus ficasse alguns dias na república onde o estudante mora hoje, um apartamento de abeuenses. Matheus participou da semana de recepção dos estudantes e conheceu o pessoal da ABU Ribeirão Preto. “Eles me receberam super bem”, comenta, “assim como recebem todos os outros calouros, cristãos ou não.” Matheus começou a participar das reuniões mensais do grupo local e de alguns estudos bíblicos. Até que houve mais um CR. Em vez de longe, desta vez o evento foi próximo, na própria cidade onde Matheus estudava. Mesmo sem se ver como cristão, o estudante decidiu participar e ajudar. “Me colocaram para trabalhar, limpar banheiro, tirar lixo, eu lembro que fiz de tudo. E eles super gostaram de mim, não só por isso, mas porque a gente trabalhou junto e foi muito bom.” Matheus lembra-se de estar limpando o banheiro com o então presidente do grupo local e sentir-se impactado pelo espírito de serviço das pessoas que tinha conhecido no movimento estudantil. “É muito surpreendente, um monte de gente de um monte de lugar e todo mundo ser amigo, amigos que não se viam há tempos, mas que eram próximos mesmo assim.” A amizade verdadeira o marcou, assim como Mariko foi importante para Paola. O estudante foi morar com Guilherme Lima, outro cristão e abeuense. “Viramos bem amigos. Eu tinha dúvidas sobre a Bíblia, sobre Jesus, sobre a igreja… Uma vez ele me mostrou profecias do Antigo Testamento e me fez ler no Evangelho a profecia se cumprindo. Aquilo foi bem marcante. E ele me deu minha primeira Bíblia.

” O próprio Matheus não sabe dizer o que aconteceu com a zombaria de antes: “Eu me sentia muito bem nos ambientes da ABU, me sentia em casa”. Com o tempo, ele foi para o Curso de Férias (CF), evento de treinamento de uma semana em julho, e levou na bagagem muitos questionamentos. Desde as leituras, com obras como Crer é também pensar, de John Stott, Matheus foi impactado. “Não tinha pensado nisso ainda, achava que a fé era um negócio cego. A ABU também quebrou muito esse preconceito que eu tinha da fé irracional. As pessoas faziam faculdade e mesmo assim tinham uma fé racional.” “O questionamento se eu estava fazendo as coisas certas [surgiu] numa conversa com um abeuense. Eu falava: ‘Nossa cara, será que eu sou cristão mesmo? Será que eu estou fazendo a coisa certa?’. Foi muito bom. Ele falou que eu tava no caminho certo, que era isso que eu tinha de fazer mesmo, crer e continuar buscando.” Antes visto como uma pessoa grossa e rude, Matheus mudou bastante, e até seus pais perceberam e por isso veem a conversão com bons olhos. “Meus relacionamentos com minha família mudaram muito, comecei a valorizar muito mais”, explica Matheus. Paola aprofunda: “Não tínhamos muito contato, éramos irmãos, mas não conversávamos muito um com o outro. Eu tinha a imagem do meu irmão ‘ateuzão’ e quando cheguei no CR todo mundo vinha me perguntar se eu era a irmã dele, falavam que estava ajudando muito. (…) Fiquei me perguntando o que estava acontecendo. Ter visto ele caminhando e ver como Deus o chamou e foi transformando-o, foi uma experiência diferente (…) e muito boa. Mostra o quão Deus é bom e também ajuda a gente a permanecer firme e a continuar crendo e vendo outras pessoas caminhando também.” A história de Paola e Matheus serve de encorajamento para os estudantes continuarem a alcançar a universidade para Cristo.

No caso deles, Paola chegou até mesmo a ver o fruto do trabalho missionário dentro de sua própria família. Afinal, a ABU funciona? “As pessoas desencorajam muito porque procuram resultados imediatos”, compartilha Matheus. “Isso também é uma forma de acreditar nos nossos próprios esforços”, complementa Paola, que nos chama a crer que Deus conduz o movimento. “[Mas] a ABU funciona, só não vai ser da noite pro dia que a pessoa vai começar a ir na igreja ou nos estudos, aceitar a salvação de Cristo”, diz Matheus. Ambos destacam áreas importantes no trabalho da missão estudantil: investir nas amizades e no acolhimento. “Relacionamentos são muito importantes”, ressalta Paola, “o principal motivo pelo qual eu me envolvi [com a ABU e a fé] foi o relacionamento com as pessoas. [Ser assim] é um reflexo do nosso próprio Deus, um Deus relacional.” Matheus complementa com a importância do estudo bíblico: “Não é só falar, mas também estudar a Bíblia. Eu tinha muita curiosidade, e foi na ABU que eu tive essa base para estudar, conversar com os amigos, ir nos eventos e aprender.”


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