Um convite a todas e todos

Por Marylin Viana


Sempre que tenho a tarefa de escrever ou falar sobre algum assunto fico num estado de agonia para decidir o que abordar a respeito do assunto proposto. Ao olhar para a Aliança Bíblica Universitária do Brasil (ABUB) e ao pensar na minha trajetória até aqui: as conversas com tantas irmãs e alguns irmãos, as mulheres que conheci e as experiências vividas, me trouxe à mente um versículo. “Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus” (Gálatas 3:28, NVI). Também me suscitou a palavra servir. Com o sentimento produzido por todas essas lembranças, nessa data comemorativa do dia 8 de março, pretendo compartilhar um pouco da minha caminhada de serviço na ABUB como mulher.


Desde cedo participei das atividades em minha igreja local, entretanto, à medida que fui crescendo percebi que, por ser mulher, não poderia ocupar certos espaços. Na ABUB, de modo diferente, me senti livre, capaz, para servir em áreas que não imaginava ter potencial.


Mas como nem tudo são flores, me deparei com dificuldades, houveram momentos de insegurança, de exercitar o perdão, e todos esses momentos serviram para eu lembrar de Cristo, quem eu servia.


Minha trajetória na ABUB começou na Aliança Bíblica de Secundaristas (ABS), mas de forma mais efetiva foi na Aliança Bíblica Universitária (ABU), participando do meu núcleo, ajudando a diretoria com outros núcleos e o grupo local. Depois de quase dois anos assumi a presidência do grupo, a ABU Salvador (BA), lá em 2013 e ali começou minha compreensão do servir e liderar, sendo mulher. O receio em lidar com as mais diversas pessoas e as diferentes igrejas, para mim, foi um desafio, foi um tempo de lapidação, de exercício do domínio próprio, de “aumentar o pavio” tal como dizia e me ensinava um amigo querido, de lidar com a TPM. No meu grupo de ABU me senti acolhida, éramos amigos para além de uma diretoria e isso fez muita diferença pra mim. Nos anos seguintes em que continuei a frente do grupo local a diretoria foi se tornando cada vez mais feminina e pude conhecer irmãs incríveis, que se tornaram amigas.


Além da diretoria do grupo local, passei pela diretoria regional, na qual fui secretária e a primeira presidenta da região nordeste. Foi uma experiência que levarei pra toda vida. A princípio, não acreditei quando ouvi sobre o fato de ser a primeira mulher. Me veio a insegurança ao pensar sobre o que as pessoas, acostumadas a ver um homem naquela posição, pensariam ao me ver, uma mulher, ocupando aquele espaço. Diante disso, procurei pensar em como era importante a presença de mulheres nesses espaços e como sempre houve e há mulheres exercendo papéis de liderança na ABU, a saber que houve uma Neuza Itioka, que há uma Sarah Nigri, Raquel Bergária, todas as obreiras, entre outras irmãs. Saber que poderia contar com Vaninha [Gilvânia Ramos, assessora da região Nordeste] na caminhada faria diferença. Pude experimentar na prática a benção da amizade, principalmente nos momentos dolorosos em que foi fundamental a cumplicidade, a rede de apoio entre mulheres na caminhada. Como diz Robin J. Gunn, autora que conheci ainda na adolescência:
“O poder de uma mulher compreensiva, que abre os seus ouvidos e o seu coração para outra mulher não deve nunca ser subestimado”.


Como já citei, nem tudo são flores, as dificuldades apareceram e houve momentos em que não fui ouvida, em que fui questionada sobre meus posicionamentos em rede social, sobre ser feminista ou não. Vi situações em que a obreira foi preterida em relação ao obreiro, mesmo este estando ausente. Nessas circunstâncias, sentia não poder fazer muito, afinal seria só mais uma mulher. Ainda assim, em meio a essas situações, recebia a paz que o Senhor me dava sobre estar servindo a ele e aos meus irmãos e irmãs na missão da melhor forma que podia, me fazia seguir em frente. Não nego que houve momentos de passar raiva, querer soltar o verbo com os irmãos, mas o pavio havia aumentado a compreensão que orar e dialogar, sempre que possível, era melhor falava mais alto.


O convite de Jesus para servir uns aos outros e para compartilhar do seu evangelho é para todos e todas. Da mesma forma, viver no corpo, sendo a igreja (in)visível ou participar de uma organização missionária, exercitando o sacerdócio universal, sendo servos uns dos outros pelo amor, responder em obediência a esse convite de proclamar o reino de Deus e glorificá-lo. Que possamos, assim, caminhar juntos lembrando que em Cristo, vínculo perfeito, não há homem nem mulher, todavia há um corpo chamado para servi-lo e proclamar suas boas novas na escola, na universidade, no ambiente de trabalho e na vida. Que outras irmãs possam se inspirar a ocupar os espaços de liderança, que sejam respeitadas, ouvidas, que continuem a construir o caminho para que outras saibam que também podem atender o convite de Jesus onde ele a chamar para servir.


Vanessa Santos – Historiadora pela Universidade Federal da Bahia, participa da ABU Salvador desde 2011 e em sua caminhada cristã vem construindo diálogos a respeito do lugar da mulher no serviço do Reino.

Gostou do conteúdo?

Compartilhe nas redes sociais e faça mais pessoas conhecerem a ABUB.