Histórias de missões poliglotas

Por Jessica Grant

Munidos de criatividade, grupos da Aliança Bíblica Universitária do Brasil (ABUB) têm usado o talento de seus integrantes em línguas estrangeiras ou ao se relacionar com estudantes internacionais para inovar e expandir o alcance da missão estudantil em suas escolas, universidades e entre profissionais. As ações envolvem desde a elaboração de estudos bíblicos em inglês ou espanhol até o ensino de português através da Palavra.


Neste mês de outubro celebramos o Dia Mundial do Estudante, que será na sexta-feira 19, uma iniciativa da Comunidade Internacional de Estudantes Evangélicos (IFES, na sigla em inglês) para mobilizar orações pela missão estudantil em todo o mundo (mais informações na página do evento). Atividades “poliglotas” são uma das ações que podem encorajar nossos grupos a conectarem-se com nossa comunidade global. Inspire-se com os relatos:

Cruzando fronteiras: ensino de português para estudantes internacionais na ABU São Carlos (SP)

A oportunidade de investir em missões transculturais pode estar dentro de sua própria escola e universidade. Cada vez mais o Brasil tem recebido estudantes estrangeiros, e os grupos da ABUB podem responder com ações de serviço e amor.
De acordo com um levantamento do Instituto Unibanco com base nos dados do Censo Escolar 2016, o aumento do fluxo de imigrantes e refugiados para o Brasil trouxe mais estrangeiros para as escolas brasileiras: o número de matrículas cresceu 112% em oito anos. Em universidades, o número de intercambistas também cresce. Na Universidade de São Paulo (USP), por exemplo, os estrangeiros já representavam 3,4% dos alunos em 2016.


Um dos maiores empecilhos destes estudantes é a língua portuguesa, por isso muitas vezes não conseguem acompanhar as aulas. As diferenças culturais e dificuldade de se entrosar também criam obstáculos.
Na Aliança Bíblica Universitária (ABU) de São Carlos (SP) os abeuenses oferecem aulas de português gratuitas para os estudantes estrangeiros (foto acima). A universidade estadual e a federal de lá recebem muitos por meio de programas de intercâmbio e convênios. A iniciativa começou em 2014 justamente quando uma das participantes, Ana Elisa Siena, viajou para a Alemanha e foi muito bem recebida pelo grupo SMD Alemanha (movimento nacional da IFES). Lá, ela viu que os alemães ensinavam a língua através de estudos bíblicos, e importou a ideia.


“Ultimamente temos tido mais contato com colombianos e um vietnamita, mas já tivemos alunos da Polônia, França, Alemanha, China, Iraque, Espanha, Vietnã, Nigéria, entre outros”, contam Laylah Raeder e Rubens Abranches Filho. Ambos participaram da ABU São Carlos e hoje apoiam o grupo, Rubens é o atual responsável pelas aulas. Ao lado deles, outros integrantes da ABU e da Aliança Bíblica de Profissionais (ABP) da cidade também dão auxílio.


“Ainda em 2014, começamos estudando alguns textos do livro de Marcos com os alunos, depois Jonas e os evangelhos de Lucas e João”, explicam. “Fazemos um estudo mais simples, com mais perguntas de observação e menos de interpretação. Também inserimos alguns exercícios de gramática.
” Por pedido dos falantes de língua espanhola, Rubens montou uma apostila com gramática e eles começaram a usar um livro de português para estrangeiros.
O grupo tem se preocupado com a integração dos participantes:


“Também temos tentado envolvê-los e fazer amizade por meio de outras atividades. As deste semestre foram e serão a aula de jogos (trabalhamos vocabulário por meio dos jogos), aula de música e hamburgada (que é realizada por uma república cristã da cidade).”

Laylah e Rubens contam que, infelizmente, muitos alunos não retornam depois de frequentar uma ou duas aulas, o que dificulta a continuidade.


“Neste semestre temos dois colombianos e um vietnamita frequentes. O vietnamita, An, é nosso maior investimento. Demos aula e estudamos a bíblia com ele inclusive durante as férias, aproveitando ao máximo a liberdade que ele nos deu. Ele já está há um ano conosco aprendendo português e evoluiu muito. No último mês ele não pôde ir à igreja, mas tem ido desde o ano passado mesmo sem ser cristão e gosta muito das músicas, sempre pede a letra com antecedência para traduzir em casa e tentar entender. Estejam conosco em oração por ele”.


No momento, as aulas acontecem nas salas de uma igreja, mas os abeuenses pedem oração para que possam retornar para dentro da universidade. “Quando utilizávamos a USP, tínhamos mais alunos. [Agora,] estamos impedidos por falta de salas disponíveis no bloco da engenharia e pela burocracia interna para utilizar outros blocos. Tentamos transformar as aulas em um projeto de extensão com apoio de um professor, mas não foi possível.

Bible study group: núcleos bilíngues atraem pela criatividade

Larissa Correia, da ABU Maceió (AL), conta que intercambistas não são comuns na federal em que estuda. Por outro lado, muitos estudantes precisam melhorar suas práticas em outros idiomas para o mundo profissional ou até mesmo para serem intercambistas em outros países. A Belta (Associação das Agências Brasileiras de Intercâmbio) publicou uma pesquisa em que afirma haver 302 mil estudantes brasileiros no exterior


Os núcleos de estudo bíblico bilíngues, portanto, atraem a atenção dos estudantes pelo interesse em ter contato com outras línguas, como inglês e espanhol. A iniciativa acontece desde abril de 2018 na ABU Maceió e foi realizada em 2017 na ABU Vitória (ES).


No caso alagoano, Larissa conta que a ideia surgiu para diversificar os núcleos e trazer os participantes de volta. Em sua universidade, a ABU tinha o núcleo da noite e outro à tarde, que se tornou bilíngue. Uma semana o estudo é em inglês, na outra em espanhol. “O núcleo da tarde tem um atrativo a mais, ainda compartilhamos o conhecimento que já temos e no fim todo mundo está aprendendo mais. A proposta não é que o núcleo bilíngue aconteça só com pessoas que já são fluentes”, explica Larissa.


Caso os participantes queiram tradução simultânea ou falar apenas em português, é permitido. Mas Larissa conta que as pessoas se arriscam a falar e a entender as perguntas sem tradução.

“Aparecem alunos de letras esporádicos, mas é ainda mais fácil falar para um não cristão aparecer na reunião quando se fala que ele vai poder praticar o idioma, aparecem pessoas mas ainda não como a gente esperava, tudo no seu tempo, né?”, compartilha.


Já em Vitória, Stefany Rogério, estudante da letras – inglês, frequentava o núcleo com sua amiga Bia há um tempo. A proposta surgiu na brincadeira: “Sempre havia convites para quem quisesse aplicar um estudo bíblico indutivo (EBI). O Gustavo Marchetti brincava de fazermos uns estudos em inglês. Até que um dia a gente levou a sério, e, entre uma conversa e outra, oficializamos a ideia”.


Não houve um núcleo oficialmente bilíngue, mas quando era a vez de Stefany e Bia compartilharem o estudo bíblico elas levavam um em inglês. “Analisávamos e interpretávamos o texto em inglês e fazíamos as perguntas com base nisso”, conta Stefany. “Fazíamos um glossário com as palavras que achávamos que iam causar mais confusão. Na aplicação do EBI, trabalhávamos o texto em inglês e as perguntas também, mas a discussão em português era livre, afinal, a intenção não era excluir ninguém.”


“Como cada idioma foi formado em um contexto, em uma cultura, a interpretação de algo em outro idioma pode ser muito diferente. Você pode perceber no texto uma coisa que nunca perceberia na sua língua, e isso é maravilhoso. Acho que todos pudemos aprender um pouco disso. Ampliar nosso pensamento. Outra coisa bacana é que isso incentivou a própria galera a se arriscar nessas leituras em inglês e a estudar mais o idioma.”


Stefany explica que, embora o grupo tenha alcançado estudantes estrangeiros de outras maneiras, não chegou a ter nenhum nos estudos bilíngues. Mas a experiência criou nela a vontade de conhecer mais a IFES e os movimentos missionários estudantis em todo mundo. Apesar de não estar ocorrendo no momento, a ABU Vitória tem o objetivo de retomar os estudos em inglês no futuro.

Mas não são apenas os estudantes que podem se beneficiar de um estudo em inglês. O grupo da ABP São Paulo (SP) organiza há mais ou menos três anos a ABP in English, um encontro totalmente em inglês. Isaque Hattu, participante do grupo, conta que a iniciativa surgiu por três razões principais, sendo a primeira a vantagem profissional

ABP trabalha tanto a questão profissional quanto a questão da vocação cristã.

No aspecto profissional levamos em conta que o inglês faz parte e é muito importante. Por isso pensamos que seria uma boa criar essa reunião para servir como complemento em termos de capacitação do profissional.”
O segundo ponto está relacionado ao idioma. Isaque explica que no Brasil o foco do ensino é a escrita, leitura e interpretação de texto, mas muito pouco para a fala e conversação. “A ABP in English é uma oportunidade para colocar em prática o inglês.”


Por fim, outra razão foi a questão missionária. “Compreendemos que o cristão como profissional também deve estar sempre ciente de que é um discípulo de Cristo, tem uma missão e pode ter oportunidades de envolvimento transcultural, por isso é bom que saiba se comunicar em inglês.” Além disso, Isaque lembra que desde o início o intuito era evangelístico: convidar as pessoas não cristãs para praticar inglês.


“Nos primeiros encontros adaptamos o projeto Lucas de tal forma que fosse um estudo bíblico indutivo visando despertar a curiosidade, a investigação e a busca por Cristo Jesus por parte das pessoas que comparecessem pelo interesse no inglês.”

Aplique!


Como seu grupo pode alcançar e servir os estudantes internacionais em suas universidades?


De que maneiras os núcleos podem ser inovados para atrair seus colegas e apresentar a eles a Palavra de Deus?

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