Por Pedro Valenzuela, assessor na região São Paulo e Mato Grosso do Sul
Mesmo que esperado, a chegada do coronavírus nos impactou mais do que imaginávamos. Aqui em São Paulo, onde moro, foi decretado estado de emergência, e o vírus continua se espalhando pelo estado, pelo país e pelo mundo. Ainda temos o desafio de conscientizar muitas pessoas da importância da quarentena, de ficar em casa e evitar o colapso do sistema de saúde. São muitas mudanças em pouco tempo.
Quando iniciou-se o isolamento, eu estava me preparando para o encontro de diretores e assessores auxiliares da região, e tivemos que fazer online. Mas com a situação atual fiquei travado sem saber muito o que fazer. Também decidimos fazer o Conselho Regional online, vamos cada dia com suas preocupações.
As atividades nas escolas e faculdades foram paralisadas, e muitas das atividades de evangelização, formação e serviço que nossos estudantes estavam organizando foram canceladas. Confesso que lembrei de 2011, quando eu ainda era estudante no Chile. Naquele ano eu era o líder do núcleo da minha faculdade, o grupo estava indo super bem, mas houve uma greve universitária por educação pública gratuita. Ficamos seis meses em greve. Foi um baque bem grande tanto para o meu núcleo quanto para o GBU Chile, movimento irmão à ABUB. Ainda dava para reunir-se na faculdade, mesmo em greve ou ocupada, mas era mais complicado chamar ao compromisso os estudantes. Alguns núcleos sofreram mais, outros conseguiram se engajar na situação.
É claro que o contexto atual é mais complexo, porque mesmo que a greve estudantil chilena tenha durado seis meses, era possível se reunir, e tanto os obreiros do movimento quanto os estudantes engajados souberam aproveitar a situação. Agora é mais complicado, o chamado é de ficar em quarentena, evitar aglomerações e reforçar as medidas higiênicas. O fenômeno é global, e até nossas igrejas locais estão suspendendo as atividades. É uma situação nova para a nossa geração. E terá consequências graves e tristes para muita gente.
De todas formas, não sou o único que crê que essas dificuldades podem abrir oportunidades inusitadas de participar da missão de Deus. Ainda lembro do testemunho da Karina Román, que era estudante da faculdade de medicina da Universidade do Chile em 2011. Ela começou a participar do núcleo durante a greve e todo esse processo a levou a entregar sua vida por completo a Cristo. Certa vez, quando ela compartilhou seu testemunho, falou “bendita greve”. Não sei se dá para abençoar da mesma maneira o coronavírus, mas creio que no contexto atual podemos ser utilizados por Deus de maneiras que nem sei quais são.
Falando em não saber, lembrei de uma pregação em Eclesiastes que eu fiz em 2017 no Curso de Férias da ABUB SP/MS, e em especial no capítulo 11, versículos 4 a 6 fala:
“O agricultor que espera condições de tempo perfeitas nunca semeia; se ele fica observando cada nuvem, não colhe. Assim como é impossível entender o caminho do vento ou o mistério do crescimento do bebê no ventre da mãe, também é impossível entender as obras de Deus, que faz todas as coisas. Semeie pela manhã e continue a trabalhar à tarde, pois você não sabe se o lucro virá de uma atividade ou de outra, ou talvez de ambas.” (NVT)
Como falei, na greve universitária de 2011 no Chile teve iniciativas minhas e de outros estudantes do GBU que deram certo e outras que não. Mas seja em condições ideais (um calendário acadêmico normal, sem greves nem outras interrupções) ou adversas (greves, pandemias, terremotos) o chamado é continuar com o compromisso com Deus e sua missão. Outro dia tive reunião com Fabi e Josué, assessores junto comigo na região SP/MS, e comentávamos como esse momento pode ser muito proveitoso para a missão estudantil, seja mantendo o contato com os estudantes ou pensando em formação online. A região está organizando, por exemplo, oficinas online para atender aos novos contatos do estado pioneiro do Mato Grosso do Sul. Será que todas nossas iniciativas vão dar certo? Não sabemos, mas isso não é da nossa conta. Não entendemos as obras de Deus, como diria Eclesiastes. Mas se não fizermos nada, não colheremos nada. Então pensemos nas ideias e possibilidades que podemos fazer durante a quarentena. E lembremos o que o apóstolo Paulo fala:
“Portanto, meus amados irmãos, sejam fortes e firmes. Trabalhem sempre para o Senhor com entusiasmo, pois vocês sabem que nada do que fazem para o Senhor é inútil”. 1 Coríntios 15:58 (NVT)
Algumas coisas para fazer durante esses dias
- Orar: o mundo inteiro está comocionado pela pandemia. Nossa família IFES (Comunidade Internacional de Estudantes Evangélicos) tem sido prejudicada por essa situação. Continuemos orando pelos infectados, médicos, cientistas que estão desenvolvendo vacinas, pelas autoridades para que tomem as melhores decisões para conter o avanço do vírus. E em especial pelo mundo estudantil.
- Continuar nossa formação na fé: aproveitemos para ler a Bíblia, seja em devocionais, estudos bíblicos indutivos ou o método sueco. Podem estudar em duplas algum livro da Bíblia ou algum livro que nos ajude a crescer no conhecimento de Deus. Se é para se reunir em grupos grandes online, em geral é mais difícil manter a concentração e o diálogo por muito tempo, sejam organizados nas falas e nos tempos, não precisa ser por tanto tempo. Se há temas de interesse para a formação na missão estudantil, aproveitem para aplicar oficinas, em especial para os calouros/bixos que mal chegaram na ABUB e tiveram as atividades interrompidas.
- Cuidar das igrejas locais: paralisação nas escolas e faculdades é comum, mas na igreja é novidade. Animem seus irmãos, aproveitem para ligar, saber da vida e orar juntos. Para quem tem grupo pequeno, continuem se reunindo online. Na véspera do cancelamento dos cultos em São Paulo, incluindo minha igreja, o pastor Ziel Machado escreveu: “Agora que estamos temporariamente privados de estar juntos, vamos descobrir o quão temporário é o que juntos nos mantém”. Oremos e trabalhemos para que a comunhão no Espírito prevaleça em nossas igrejas locais.
- Conscientizar as pessoas, em especial os mais velhos: outro dia fui comprar comida na feira, e o que mais tinha era velhinhos. Tem muita gente que ainda não entendeu a gravidade da situação, e é bom explicar para nossos familiares, irmãos da igreja e amigos sobre a situação complicada que estamos vivendo. Coloque-se à disposição para fazer as compras para seus contatos do grupo de risco!