Emanuel: como a certeza da presença de Deus pode nos ajudar a passar pela pandemia?

Por Jonatas Souza de Abreu, conselheiro da região Nordeste

Vejam! A virgem ficará grávida! Ela dará à luz um filho, e o chamarão Emanuel, que significa ‘Deus conosco’”. 

Mateus 1:23* 

Há no ar um clima estranho; uma mistura do aroma do medo, com a dor da incerteza e o temor da morte. Cidades desertas, corações apertados. 

Algumas vezes tudo isso toma conta de nós de uma maneira tão estranha, que nos vemos ansiosos sem sabermos por quê. Nossos corações palpitam, nossas mentes ficam irrequietas, a concentração nas tarefas domésticas mais básicas é difícil e a paciência com os infantes, nem se fala. 

Não sabemos os rumos do país num tempo em que o mundo inteiro agoniza diante de uma pandemia de Coronavírus, qual o desfecho do próximo capítulo do dia seguinte nessa novela da vida real, quem sobreviverá para contar a história (esperamos que todos). 

Esgotamento de quê? Da vida? Cansaço? Já?
Mas há algo que pode nos confortar nesses momentos de tamanho esgotamento: a promessa e a certeza do Emanuel.
Para alguns uma realidade distante; e muitas vezes para nós, cristãos. Não temos sido ensinados a lidar com certas circunstâncias, especialmente a dor e a incerteza, nas nossas igrejas. Mesmo o luto tem, aos poucos, perdido lugar nas nossas “capelas” e feito sua morada nos Centros de Velório, onde a dor parece reinar, mas só ali. Choque de realidade, esse deveria ser o nome do que estamos sofrendo nesse momento. 

Mas urge relembrar: o Emanuel está conosco. 

É, no mínimo irônico, que essa tragicomédia tenha acontecido à história um tempo antes do Natal e chegado ao país um pouco antes da Páscoa. Duas datas muito significativas para os cristãos, e não por acaso, datas que relembram a promessa de Deus conosco e o cumprimento dela, na libertação do povo de Israel e na nossa própria libertação através da nossa substituição no sacrifício vicário de Cristo na cruz, seguido da sua ressurreição. 

Há algumas coisas importantes que precisam ser rememoradas nesses dias em que o nosso corpo se arrepia e o nossa alma se abate dentro de nós. Para tanto, peço um pouco de paciência ao (à) querido(a) leitor(a) dessas linhas para que eu possa mostrar-lhe alguns fatos que demonstram que mesmo nesse tempo terrível em que vivemos, Deus não nos abandona e jamais nos abandonará, mesmo que sua presença, frente aos eventos recentes, pareça nos sugerir o contrário. 

1- Olhe a história do povo de Israel (Sl 78.3,4 NVI)
 
A história da libertação do povo de Israel não é constituída de uma linha curta. Ao contrário, as idas e vindas do povo durante quarenta anos no deserto mostram bem, não só a demora do povo em chegar na “terra prometida” aos patriarcas pela boca do próprio “Eu sou”, como a paciência dele em lidar com revoltas frequentes e reclamações infundadas pela falta das “benesses” da escravidão. 

Ainda assim, mesmo que algumas vezes tenha demonstrado Sua (justa) ira àquele povo rebelde, Ele NUNCA, jamais, os deixou (Hb 13.5). Sempre se mostrou numa coluna de nuvem durante o dia, e como uma coluna de fogo durante à noite. Sua presença, desde que o tabernáculo foi constituído no deserto jamais se retirou (Ex 40.34-38; Nm 9.16; 10.11,12;); como num prenúncio do Cristo que viria, ele habitou no meio de um povo de lábios e corações impuros, demonstrando graça, misericórdia  e santificando-os e lembrando que eles o pertenciam e que nenhum outro povo inimigo os tiraria de suas mãos. 

Se Deus prometeu NUNCA deixar ou desamparar os seus, devemos crer nisso nos agarrando a esta verdade como um náufrago se agarra a um pedaço do casco do navio que insiste fortemente em flutuar, até que as águas do mar o levem de volta à margem da praia. 

2- Observe a ação de Deus
 
Deus pode parecer distante, mas ouve o clamor do Seu povo. Isso não é uma frase de efeito, mas uma verdade constante em toda a Bíblia. Naturalmente, para ter acesso pleno a essa promessa, devemos crer que a Bíblia é Palavra de Deus. Ainda se voltamos ao povo de Israel, vemos que desde antes dos filhos de José habitarem o Egito, Deus havia dito a Abraão que eles passariam 400 anos em terra estrangeira, mas seriam resgatados por Sua forte mão (Gn 15.13). 

Durante a vida do próprio Abraão, Deus já dá sinais de que mesmo a imperfeição do patriarca não anularia a sua aliança (pois ele mesmo passou entre as partes do sacrifício) , conquanto mais de uma vez ele tenha ordenado que ele pusesse seu coração na ordem dele de andar em sua presença e ser íntegro (Gn 17.1); e todos os patriarcas posteriores puderam sentir o antegozo da promessa de herdarem uma terra que não era deles, e de um Messias que ainda viria (Hb 11.39,40). 

Se fizermos o exercício de atravessar a história do povo de Israel da saída do Egito até sua libertação do cativeiro babilônico, por exemplo, veremos que Deus, de maneira graciosa sempre lhes providenciou maneiras de anunciar a sua presença, senão, vejamos:
a) através da sua justiça – desde os juízes, passando aos reis, até que o reino se dividisse e fossem conquistados, e mais uma vez eles pudessem retornar à sua amada terra;
b) da sua misericórdia – quando estabeleceu ele mesmo um lugar permanente para a arca, primeiro em Siló, e logo depois, no templo em Jerusalém para que pudesse “habitar” no meio do povo, construído por Salomão, filho de Davi, rei de Israel; 

c) do seu olhar atento e do seu juízo, quando do meio do povo, que constantemente, em explícito adultério religioso, o trocava pelos deuses dos  povos vizinhos,  suscitava profetas quando para lembrar-lhes, das mais variadas maneiras “arrependam-se dos seus pecados, pois o Reino de Deus está próximo; Deus é fogo que consome, mas misericordioso tal que abençoa até mil gerações daqueles que o amam” e finalmente; 

d) da sua promessa do Cristo, sempre lembrada através dos sacrifícios estabelecidos na lei, nas festas anuais, especialmente na páscoa, nas palavras dos profetas, na libertação do cativeiro e na construção do Segundo templo, no período pós-cativeiro, dos sinais dos tempos de que o Messias, o supremo libertador, viria em carne, superando a existência e o pecado de Adão, para ser perfeito e sacrifício suficiente para redimir os pecados do povo de Deus, religando-o aos seus amados. 

Deus não somente prometeu que jamais os deixaria; sempre os lembrou da promessa e agiu na história cumprindo-a, e assim o faz até hoje, ainda que não possamos, como muitos dos nossos pais no passado, que morreram sem ver o messias em carne, ver a completude dos seus planos e das suas promessas para nós! 

Ainda assim, podemos declarar como Jó, o justo, o fez: ““Quanto a mim, sei que meu Redentor vive e que um dia, por fim, ele se levantará sobre a terra.” (Jó 19:25) 

3- Veja o teatro de sombras: “pois essas coisas são apenas sombras da realidade futura, e o próprio Cristo é essa realidade”. (Colossenses 2.17)
 
Os imperfeitos libertadores na história do povo hebreu foram uma tipificação do Perfeito Libertador; vejamos pois:
a) Moisés cruzou o mar junto ao povo, liderando-o; Cristo cruzou as portas da morte solitariamente, carregando a nossa multidão de pecados desde a antiguidade até o futuro, num ato de redenção cósmico que alcançou aqueles que creram para a justiça (Rm 10:10) e aos nossos descendentes que poderão ter testemunho do Cristo unigênito o qual foi concebido por obra do Espírito Santo e nasceu da virgem Maria, que padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morte e sepultado, desceu ao Hades, ressurgiu dos mortos ao terceiro dia, subiu ao céu e está assentado à mão direita de Deus Pai, Todo-poderoso, de onde há de vir a julgar os vivos e os mortos”¹ 

b) Nem Moisés, nem Josué, nem Ciro – chamado “meu pastor” (Is 44:28), Esdras ou Neemias, puderam perfeitamente libertar o povo de Israel, somente àquele que viria, muito tempo depois, e seria chamado de Jesus. Mesmo Moisés, caminhou o deserto com o povo mas, não entrou na terra que lhe foi prometida; Cristo conquistou a morte e nos resgatou perfeitamente e subiu ao céus, de onde voltará para restaurar todas as coisas, desde a natureza até a nós (Rm 8.22), os que por meio da graça através da fé (Ef 2.5,8), pudemos crer no testemunho do Espírito Santo sobre o Filho! 

Como é possível, pois, que na solidão de uma pandemia Ele possa nos abandonar à própria sorte? 

c) Moisés morreu e deixou Josué em seu lugar; Jesus nos enviou o Espírito Santo (Jo 14.16; 15.26)! Sem a promessa, e o real cumprimento dela, nós não poderíamos entender a realidade de Cristo em nós e conosco, de maneira que podemos testemunhá-Lo corajosamente (At 1.8)! E fazemos isso quando cremos que Deus no seu santo propósito permitiu SIM que, indistintamente, fôssemos assolados por essa peste, mas que também permitiu que pudéssemos estar guardados em Cristo Jesus (Jo 10.28). Ora,  Deus poderia ter livrado os apóstolos do martírio (especialmente aos que tiveram suas cartas incluídas no Cânon da Escrituras), mas não o fez; poderia ter livrado os cristãos primitivos das perseguições, das crucificações em massa, dos leões famintos na arena, mas não o fez; poderia ter livrado os crentes do fogo da inquisição e das “noite de São Bartolomeu”², mas permitiu a morte deles; poderia até fazer com que cristãos contemporâneos pudessem se livrar do martírio em países longínquos, mas o permite. É Deus mau por isso, ou pelo sangue de todos esses faz brotar a semente da Igreja³ una, santa e universal? Poderia, mesmo, ter livrado Jesus da Cruz, mas não o fez, porque o sangue inocente de Cristo nos livra de todo o pecado e nos justifica perante Deus!
 
d) O testemunho do Espírito Santo faz a Igreja avançar em todos os cantos da terra proclamando que a real liberdade não se encontra em sistemas filosóficos e regimes políticos (ainda que um ou outro possam ser melhores e se diferenciarem claramente), mas em Jesus de Nazaré! A fé neste Jesus, o qual Deus ressuscitou dentre os mortos (At 2.32), pode transformar corações corrompidos e mãos manchadas de sangue em corações de carne (Ez 11.19) e mãos prontas ao bem, pelo poder do Espírito Santo. Somente pelo poder dele temos o privilégio de, mesmo em pandemia, testemunhar de Cristo a outros doentes ou confinados; de joelhos em nossos lares ou trabalhando pela mitigação desta nas ruas e, mais ainda: somente pelo poder dele, podemos gozar de uma paz que não nos cega, mas faz descansar nos braços de Deus, quer para a vida ou para a morte! 

4 – Traga a memória o que pode te dar esperança (Lm 3.21-23)
 
Em todas as ocasiões o Todo Poderoso nunca desamparou seu povo, e prometeu em que nunca nos desamparará, Segundo as Escrituras. Não há nada que nos possa afastar do seu grande amor (Rm 8.30-37), e devemos crer nisso! Não há clamor de “violência” (Hc 1.2) por parte do povo que não seja ouvido pelos céus, tampouco não há promessa de libertação que o próprio Deus tenha feito que não tenha sido ou seja cumprida, porque “Deus não é homem para mentir, nem ser humano para mudar de ideia. Alguma vez ele falou e não agiu? Alguma vez prometeu e não cumpriu?” (Nm 23.19). Todavia, ainda que a situação esteja mais do que caótica, e que nossos governantes façam pouco caso de assistir o povo, podemos nos alegrar no Senhor e exultar no Deus da nossa Salvação (Hc 3.18), pois ele triunfará e sairá do seu lugar para redimir o seu povo e castigar toda a iniquidade; a terra não mais esconderá os seus mortos (Is 26. 20,21). O SENHOR é Deus de Justiça e Salvação! 

Foi Jesus que exortou, inclusive a nós, no sermão da montanha a não andarmos ansiosos ou amedrontados, pois se Deus sustenta a Sua criação, cuida de maneira atenciosa e dócil de cada um de nós,
“Por isso eu lhes digo que não se preocupem com a vida diária, se terão o suficiente para comer, beber ou vestir. A vida não é mais que comida, e o corpo não é mais que roupa?  Observem os pássaros. Eles não plantam nem colhem, nem guardam alimento em celeiros, pois seu Pai celestial os alimenta. Acaso vocês não são muito mais valiosos que os pássaros? Qual de vocês, por mais preocupado que esteja, pode acrescentar ao menos uma hora à sua vida? 

“E por que se preocupar com a roupa? Observem como crescem os lírios do campo. Não trabalham nem fazem roupas e, no entanto, nem Salomão em toda a sua glória se vestiu como eles. E, se Deus veste com tamanha beleza as flores silvestres que hoje estão aqui e amanhã são lançadas ao fogo, não será muito mais generoso com vocês, gente de pequena fé? 

“Portanto, não se preocupem, dizendo: ‘O que vamos comer? O que vamos beber? O que vamos vestir?’. Essas coisas ocupam o pensamento dos pagãos, mas seu Pai celestial já sabe do que vocês precisam. Busquem, em primeiro lugar, o reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão dadas. 

“Portanto, não se preocupem com o amanhã, pois o amanhã trará suas próprias inquietações. Bastam para hoje os problemas deste dia.” (Mateus 6:25-34) 

Ainda que não vejamos de pronto o cumprimento das suas promessas e não entendamos plenamente os seus desígnios, podemos descansar na esperançosa memória das promessas e dos seus maravilhosos feitos. Isso pode nos livrar da mais profunda dor e da mais horrenda ansiedade! Isso nos pode trazer vida e paz que nem todas as pessoas do mundo podem compreender. 

A realidade da ressurreição nos ensina a termos não somente confiança de que tudo isso pode passar, mas antes de tudo, de que “porque ele vive, nós também viveremos” (2 Tm 2.11). Podemos crer num amanhã diferente, não porque podemos ter uma vacina, mas porque Ele prometeu que nunca, jamais, nos desampararia (Hb 13.5), mesmo que nossos pais assim o fizessem (Sl 27.10); ele é quem pode nos dar vida e esperança sobre qualquer mal e sobre a morte, nos coroando de graça e misericórdia(Sl 103.4)! Creiamos, pois na sua promessa e bendigamos com todo o nosso ser, sem nos esquecermos de quaisquer um dos seus benefícios! Amemos aquele que nos amou tanto que “Embora sendo Deus, não considerou que ser igual a Deus fosse algo a que devesse se apegar. Em vez disso, esvaziou a si mesmo; assumiu a posição de escravo e nasceu como ser humano. Quando veio em forma humana, humilhou-se e foi obediente até a morte, e morte de cruz” (Filipenses 2:6-8). 

Testemunhemos de Cristo e da sua gloriosa salvação na força do Espírito Santo que nos capacita, nos santifica e nos prepara para o dia em que nos encontraremos face a face com Deus!
 
Portanto, não tenhamos medo: é ele quem diz “Não tenha medo! Eu sou o Primeiro e o Último (Apocalipse 1.17). Sou aquele que vive. Estive morto, mas agora vivo para todo o sempre! E tenho as chaves da morte e do mundo dos mortos (Ap.1.18) […] E eis que venho sem demora(Apocalipse 22.12 ARA) […]. Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim”(Apocalipse 22.13). 

Maranatha!
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*Todas as referências utilizadas nesse texto, salvo as de indicação em contrário, foram retiradas da Bília Sagrada – Nova Versão Transformadora, pulblicada pela Editora Mundo Cristão.
¹Credo apostólico.
²O massacre da noite de São Bartolomeu ou a noite de São Bartolomeu, foi um episódio, da história da França, na repressão ao protestantismo, engendrado pelos reis franceses, que eram católicos. Esses assassinatos aconteceram em 23 e 24 de agosto de 1572, em Paris, no dia de São Bartolomeu. Estima-se que entre 5 000 e 30 000 pessoas tenham sido mortas, dependendo da fonte atribuída.
³Tertuliano, Apologético, 50.13

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