O envelope de cem reais

Por Jessica Grant

Ao final de sua parte prática do Instituto de Preparação de Líderes (IPL), Millena Carvalho Catharino, Suellen Gonzaga, Lewanne Sousa Barbosa, Noeme Barbosa da Silva, Diego Alonso Pereira e Ruan Lino da Silva depararam com um envelope contendo cem reais nas mãos de cada um e tomaram uma decisão que resumiu as lições do treinamento missionário…


O IPL é o evento de formação mais longo que a Aliança Bíblica Universitária do Brasil (ABUB) oferece aos líderes estudantis e profissionais. Neste ano, o evento ocorreu entre 14 de janeiro e 1º de fevereiro, quando quase 60 participantes mergulharam no Evangelho de Lucas sob o tema “Riquezas reais”. No fim da segunda semana, eles foram enviados em grupos para a parte prática, para servir em igrejas, comunidades ou projetos de assistência social.

Foi quando os seis participantes acima (e na foto), oriundos das regiões Sul, São Paulo e Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Norte, Nordeste e Leste, foram à Igreja Metodista do Brasil em Itapoã (ES). “Logo no dia que chegamos [sexta-feira] fomos ao asilo para visitar, fazer um culto simples e ouvir os idosos. Para alguns de nós foi um evangelismo novo e impactante”, relatam. No mesmo dia, serviram lanche à noite para moradores de rua, e no dia seguinte participaram de uma ação social com atendimento médico e jurídico, alongamento, massagens e palestras.

O grupo também teve um tempo com a igreja, em um lual, na escola dominical e no culto do domingo à noite. A proximidade com a congregação lhes impactou:
“Aprendemos muito sobre generosidade e amor ao próximo. Em todas as atividades, os membros da igreja foram bem participativos. Foi como se fôssemos membros daquela igreja local por um fim de semana, parte do corpo, e não supermissionários. As ações dos irmãos servindo à comunidade, com o coração humilde e sincero, nos tocaram. A hospitalidade dos irmãos que nos receberam também foi significativa. Eles não nos deixaram custear nada, nos receberam como se fôssemos velhos amigos, sem nos conhecer. E no final a oferta foi mais um sinal da grande generosidade de Deus através daqueles irmãos.”


Esta oferta veio no fim do culto. “Um senhor se dirigiu até nós com envelopes em mãos e entregou um para cada um do grupo. Sem entender muito bem, aceitamos e continuamos a conversar. Alguns minutos depois, percebemos que dentro de cada envelope tinha uma nota de cem reais.” Os ipelenses ficaram confusos, mas sensibilizados. Juntos decidiram encaminhar a oferta para dois destinos. O primeiro é o fundo geral da ABUB; consciente da dificuldade financeira que a missão está enfrentando, sendo até possível a redução de carga horária e sustento de alguns obreiros, o grupo decidiu apoiar a equipe nacional. O segundo destino foi um fundo criado pelos seus colegas durante o próprio IPL, voltado aos próximos ipelenses da região Norte e Centro-Oeste.


“Diante de todo o aprendizado que tivemos anteriormente à parte prática e pela forma como fomos tão bem recebidos e abençoados pela igreja em que estávamos servindo, não poderíamos ter dado outro destino a essas ofertas a não ser abençoar os nossos obreiros, que dedicam a vida a essa missão, e também os estudantes que futuramente terão a oportunidade de participar de um evento de formação tão enriquecedor como este.”
A prática generosa antes da parte prática
“E lhes disse: ‘A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Portanto, peçam ao Senhor da colheita que mande trabalhadores para a sua colheita. (…) Quando entrarem numa casa, digam primeiro: Paz a esta casa. Se houver ali um homem de paz, a paz de vocês repousará sobre ele'”
(Lucas 10:2,5-6a; NVI).


A atitude do grupo foi um exemplo prático das lições do IPL, e não foi o primeiro. O Evangelho de Lucas possui vários alertas sobre a ganância, a necessidade de confiar em Deus, e não na ilusão do dinheiro. Tályta Alencar, assessora de mobilização de recursos da ABUB, por exemplo, deu uma oficina sobre mobilização de recursos nos grupos locais e uma palestra sobre generosidade à luz das Escrituras. “O tema da palestra é importante porque generosidade também é uma disciplina espiritual, um exercício que todo cristão deve ter, e na ABUB precisamos falar mais dessa disciplina. Também porque devemos criar uma cultura saudável e bíblica de doações entre estudantes, profissionais e pessoas envolvidas com a missão. No geral, queremos formar uma comunidade generosa”, explica a assessora.

A generosidade frutificou antes mesmo da parte prática. Com o intuito de dar ferramentas e ideias saudáveis de mobilização de recursos aos grupos locais, a oficina de Tályta provocou uma iniciativa dos próprios estudantes para abençoar futuros ipelenses. André Batista, estudante da ABU Belo Horizonte (MG) que participou da oficina, conta: “Foi interessante pois a Tályta quis mostrar porque o movimento depende de mobilização de recursos e como isso está relacionado ao fato da ABUB ser um movimento, uma organização missionária e uma comunidade. Eu nunca tinha enxergado a ABUB por essa combinação”.

André escolheu a oficina porque é um tema importante para sua região, Minas Gerais, que este ano criará um Grupo de Trabalho para arrecadar doações para o obreiro Heitor Barboza a manter-se em tempo integral, entre outros motivos.

Noeme Barbosa da Silva, estudante da ABU São Luís (MA), a mesma do grupo de parte prática, participou da oficina para ter ideias de como conseguir recursos e repassá-las aos estudantes de sua região e cidade. Noeme conta que “a proposta [inicial] foi redigir um texto em que colocássemos o que aprendemos em prática, [um] texto feito com cuidado e direcionado à pessoa que iríamos pedir ofertas”. Mas a iniciativa dos estudantes foi além ao criarem um fundo de doações para os futuros ipelenses. “Acho que já foi fruto do estudo bíblico que fizemos no início da oficina e uma pré-disposição do coração deles em exercer aquilo que estávamos conversando”, conta Tályta.

André explica: “A proposta foi simples: através de uma mensagem convocar os ipelenses a doarem para um fundo que criamos pra auxiliar os participantes de 2019. Queremos ajudar estudantes da região Norte, por ser aqueles que mais gastam com custo de transporte, e da região Centro-Oeste, pra servir de incentivo, pois nenhum estudante dessa região foi enviado ao IPL”. “Fizemos isso por estarmos sendo impactados num IPL no qual o tema nos incita à generosidade e ao partilhar como formas de luta contra o pecado que se faz presente na nossa própria cultura, que é o pecado da cobiça, da ganância e da avareza; essas coisas se fazem presentes quando deixamos nos levar pela ideia do acúmulo e deixamos de olhar pro nosso irmão.” Tályta ficou bem feliz pela iniciativa que, de acordo com ela, fortalece nosso senso de comunidade.

A generosidade deles possibilitará a capacitação dos estudantes que estão mais longe de onde costumam ser os eventos nacionais. Ela também comentou sobre a empatia do grupo, citando Noeme: “Tinha uma estudante do Norte na oficina, e a sugestão não partiu dela, mas o pessoal perguntou-lhe quanto havia gastado de passagem pra estar lá (mil reais) e ela ainda estava buscando recursos pra terminar de pagá-las”. O levantamento dos recursos começou durante o próprio evento, e o fundo já possui cerca de 300 reais, contando com o recurso do grupo da parte prática.

Mas a campanha continuará ao longo do ano. Para saber mais e contribuir, escreva para talyta@abub.org.br.

Frutos que alcançam o próximo

“Vendam o que têm e deem esmolas. Façam para vocês bolsas que não se gastem com o tempo, um tesouro nos céus que não se acabe, onde ladrão algum chega perto e nenhuma traça destrói. Pois, onde estiver o seu tesouro, ali também estará o seu coração” (Lucas 12:33-34; NVI). O olhar para os outros citado por André também reverberou para o grupo da parte prática ao compartilhar seus envelopes. Eles relatam: “Com a experiência no IPL e, especialmente na parte prática, aprendemos que a igreja de Cristo precisa ser expansiva. A redoma fechada dos crentes não pode ser uma realidade. Ao contrário, a ideia de ‘cuidado com o outro’ envolve relacionamentos e interações para além das portas de templos. (…) A missão do povo de Deus envolve um comprometimento da igreja com todos aqueles sujeitos que a circundam: tanto os que recebem o foco do seu olhar quanto os que, muitas vezes, estão apenas perifericamente em suas preocupações”. “O ensinamento específico [que aprendi no IPL] é não amar o dinheiro, mas amar o próximo”, resume Noeme.

Agradeça a Deus pelos participantes do IPL e interceda para que possam ser sal e luz em seus contextos, servindo à missão ao longo deste ano.

Leia mais e ore a partir dos ensinamentos do IPL no Intercessor de fevereiro.

Se quiser exercer sua generosidade e participar da nossa missão, é só cadastrar sua doação neste link

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