Por Giovanna Amaral, secretária de comunicação da ABUB
O que aprendi no Encontro de Líderes Jovens do Movimento Lausanne (ELJ)? O que trago para a ABUB?
Reafirmo, aprendi que conexões são vitais.
De fato, formar conexões não é uma ideia inovadora deste encontro. Mas eles foram muito sábios e inspirados pelo Espírito Santo em fortalecer um ensinamento chave para a Igreja, em tempos de excesso de informação, distanciamento e valorização de vínculos frágeis.
Olhando a partir dos ensinos de Paulo, na metáfora do corpo, percebo que infinitas conexões ocorrem para que a vida seja possível. Enquanto a nossa sociedade moderna fragmenta a identidade e rompe com o passado, nos reconectar uns aos outros, e à cabeça, Cristo, é um ensinamento realmente vital para a fé.
“Deus irá orquestrar divinas conexões”, afirmou na cerimônia de abertura a diretora do Encontro de Jovens Líderes, Sarah Breuel. Cabe aqui incluir uma parte da história de Sarah (e seu esposo Renné): brasileiros, enquanto estudantes serviram a ABU São Paulo/FGV. A Sarah compôs dupla na primeira experiência do intercâmbio com a NKSS, movimento estudantil norueguês.
Eles serviram a ABUB em tempos diferentes de suas histórias e com seus múltiplos dons. Um papel marcante foi em 2010, em um amplo processo de pesquisa e planejamento para o movimento nacional. Alguns frutos que colhemos hoje, é parte do esforço gracioso deles. Além do tempo de serviço no movimento de Lausanne, Sarah é obreira do movimento estudantil na Itália (GBU) .
Retomando à fala inicial da Sarah – Sim, Deus orquestrou muitas conexões!
Nas manhãs, antes, durante e depois das exposições bíblicas reuníamos em grupos pequenos, chamados de “grupos de conexão”. A proposta foi a de um partilhar pessoal – nossa história, quedas, redenção, esperança e sonhos.
Bem, para minha surpresa, o meu grupo estava muito distante da minha realidade. Tive que lidar com sentimento de frustração e estranhamento! Ao mesmo tempo, não queria assumir o papel de Jonas! Ainda assim, antes do ELJ, escrevi para a secretaria solicitando que fosse remanejada e ouvi “não é possível”.
A princípio estávamos em sete: Um professor do ensino médio, indiano, e outros dois professores de seminário (um do Camboja e mais um indiano vivendo no Canadá – o nosso mentor). Havia também uma estudante de seminário de Hong Kong, vivendo nos Estados Unidos. E então, um plantador de igreja de Singapura, servindo em uma pequena vila tailandesa.
No segundo dia, tive um lampejo de esperança – se juntou a nós um secretário geral da IFES Romênia. Só não contava com o fato de que ele estivesse em fase de transição para servir em uma missão transcultural na Índia.
De fato, eu não fiz conexões “práticas” e ao longo da semana percebi que Deus tinha outro intento para mim.
Saio um pouco do meu grupo de conexão para descrever um encontro anterior e que me preparou para o propósito de Deus: na primeira manhã do ELJ conheço missionários brasileiros servindo uma igreja no interior da França. Eles descreveram que o maior desafio é a abertura da igreja ao discipulado. Eles trabalham com jovens cristãos que possuem uma fé privada – o que creem ou não é questão de foro íntimo. A vivência comunitária ou pública da fé não faz parte de sua compreensão cristã.
Aquilo me chocou. Não por um estranhamento, mas por uma percepção que os ventos desta sociedade chega com força ao Brasil e já está presente há algum tempo nas universidades e em metrópoles como São Paulo. Portanto, já atingia a mim mesma.
Dias antes do ELJ, meu esposo havia partilhado um trecho do livro “O Evangelho em uma Sociedade Pluralista”, de Lesslie Newbigin:
“Quando digo ‘eu creio’, não estou simplesmente descrevendo um sentimento ou experiência interior: estou afirmando que aquilo em que acredito é verdadeiro e, portanto, que é verdadeiro para todos. O teste do meu compromisso com essa crença será que estou disposto a divulgá-la, compartilhá-la com outros e pedir a opinião e – se necessário – a correção deles. Se eu não fizer esse exercício, se tentar manter minha crença como uma questão privada, ela não é uma crença na verdade”.
Retornando aos meus irmãos asiáticos: na desconexão da minha realidade com a deles, fui edificada com um testemunho fiel e radical. Todos enfrentaram situações extremas ao decidir seguir a Jesus: eles são discípulos onde pode haver situação de perseguição e violência. Onde a rejeição familiar e o abandono são reais.
A conversão da maioria deles exigiu uma entrega plena – e encheu cada um deles de coragem e alegria, “contraditoriamente”. O nosso irmão do Camboja ouviu da mãe a desfiliação, porém, com paciência e perseverança, por amor a ela e a Cristo, apresentou o evangelho e toda sua família se converteu.
A nossa irmã chinesa perdeu quase toda sua família em um acidente de ônibus, incluindo sua mãe, tios e primos. Seu pai teve danos motores severos. Ela é a única cristã da família e acredita que Jesus pode trazer verdadeiro alívio aos que sofrem, por isso se dedica a vítimas de catástrofes ambientais.
Assim, a fé dos meus irmãos quebrantou o meu coração. Posso amar a Jesus como eles amam em meu ambiente confortável?! Sim, eu posso! Posso testemunhá-lo com fervor?! Sim, eu posso. Pois o evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê.
Ao longo dos dias o Espírito Santo me incomodava com algumas perguntas: O evangelho é bom? Ele realmente pode transformar vidas? O que Deus tem me proporcionado é bom também para o outro?
Para mim, a universidade foi um ambiente de muito crescimento – pessoal, acadêmico e espiritual. Sim, um ambiente ‘agressivo’, mas muito frutífero à minha fé. Em meio às dúvidas, crises vocacionais, solidão e medo, no evangelho reconheci uma mensagem de real contento e encontrei sentido ao servir o Reino de Deus ao invés de uma permanente busca por ascensão profissional, reconhecimento e satisfação material.
Todos nós sentimos sede. Eu conheço a fonte da água viva. Aquela que satisfaz plenamente. Oferece-la é um ato de amor a Jesus – pois ele é digno de ser reconhecido como Senhor – e ao meu próximo.
Então, o que foi o ELJ para mim: conexões. A primeira dela com o evangelho, por meio dos meus irmãos asiáticos.
Esta boa nova é vida para mim e para todo o que Nele crer. É vida para os estudantes brasileiros e profissionais que precisam se submeter ao senhorio de Cristo e encontrar no evangelho todo o poder para todas as áreas de suas vidas.
Jesus vem! E pelo que vimos do comprometimento daqueles jovens em se entregar pelo evangelho, ele vem logo.
*(crédito das fotos: Movimento Lausanne)
** A introdução sobre o ELJ e outros recursos pode ser lida neste link.