Ainda precisamos falar de arte na ABUB

Por Marília Cavalcante*

“Tudo que é bonito de viver nos pega e nos leva pela mão
[…]
ao dizer que o belo é expressão do universo como tem de ser”

(“Embelezar” – Jorge Camargo)

Por onde olhamos há expressões do ser, seja na maneira que dispõe uma banana na fruteira ou até na pintura de um quadro. Somos cercados de arte, pois assim a entendemos, como uma expressão. É como a compreende a maior parte das pessoas que responderam ao formulário sobre a relação da ABUB com as artes que fiz e encaminhei para alguns grupos. Elas veem que a arte está presente em nossas vidas, boa parte dos abeuenses entendem e experimentam-na. Ao longo dos anos temos tido experiências artísticas em encontros locais, regionais e nacionais, temos refletido e produzido material. Ainda assim, entendemos que há necessidade de refletir, apresentar e produzir arte dentro dos espaços do movimento. Mas se já cantamos, já temos o momento “Respondendo à Palavra” com artes ou o Experimento Marcos, se há até publicações em revista de literatura, por que precisamos trazer sempre à tona a questão?

São três as razões que apresento aqui:

Desenhos do abeuense Weslley Ferreira, da ABU Seropédica (RJ)

 

1. Durante um bom tempo se estabeleceu no Brasil uma noção de que existe uma arte profana e uma arte sagrada. Apesar de parecer algo absurdo para muita gente, ainda há pessoas com muita dificuldade em produzir artisticamente de maneira livre ou de consumir certas produções devido a essa divisão. Diante disso, é muito importante trazer produções e ter espaço para elas. Isso pode gerar uma formação dentro da ABUB que permita às pessoas experimentarem dessas expressões sem medo de profanar a fé.

2. Outra razão está em nossa compreensão da arte como uma expressão que diz sobre a fé. Ela faz isso não de maneira utilitária, não na intenção de se fazer arte cristã, mas porque a boca fala, a mão escreve, os dedos tocam aquilo que está cheio o nosso coração. A arte que produzimos está preenchida de graça porque temos o coração assim preenchido. Assim, como o testemunho da nossa vida é reflexo da bondade de Deus, o que produzimos segue a mesma regra, mesmo que não falemos abertamente de Deus. É sempre preciso reforçar que não estamos em busca da boa arte cristã quando nos comunicamos artisticamente no mundo, mas somos capazes de expressar a bondade e a fé que carregamos em nós.

3. A origem de muitos impasses com a arte profissional é a difícil leitura do mundo. Se não olharmos o que está sendo expresso com misericórdia, fica muito fácil olharmos de maneira julgadora ou como quem domina a “verdade artística” (que, por sinal, é um termo muito estranho). O que sabemos, todavia, é que as dificuldades na evangelização nos institutos de artes passam pelo mau testemunho dos cristãos. O olhar julgador para o interior do outro que está sendo expresso, a noção separatista de arte em sagrada ou não, as más compreensões sobre arte e fé, levam muitos a não se sentirem à vontade em ouvir sobre o evangelho. Por isso reforçamos a necessidade de continuarmos a pensar, refletir e produzir arte a fim de termos melhores leituras sobre essa relação entre arte e fé. Para que os estudantes desses institutos se sintam encorajados, acolhidos e cobertos de graça para compartilhar com seus colegas sobre um Deus que é belo e que cercou de beleza o mundo.

Queremos que a ABUB vire uma Aliança Bíblica de Artistas do Brasil? Não. Mas esperamos que, dentro do nosso movimento, sejamos enriquecidos no conhecimento de Deus para levarmos o evangelho de maneira contextualizada quer seja na escola, na universidade ou no trabalho.

*Marília estudou história, área na qual também é mestre. Já foi diretora adjunta de ABU na Diretoria Nacional e atualmente participa da Aliança Bíblica de Profissionais (ABP) Maceió (AL)

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