Entrevista com Sarah Nigri: trajetória até a secretaria geral

Originalmente publicado no Entre Nós de 2023.

 

2022 foi um ano que consolidou algumas transições na Aliança Bíblica Universitária do Brasil (ABUB). Nossa secretária geral desde 2015, Sarah Nigri de Angelis passou o bastão para Thiago Oliveira (também conhecido como “Mouse”). Antes de sair do movimento, Sarah deixou um mapa para o nosso futuro: um planejamento estratégico com ênfases e propostas.

Um homem branco careca com barba sorri está ao lado de uma mulher branca com cabelos castanhos compridos. Ambos sorriem para a foto. Ao fundo, vê se algumas plantas.

Thiago Oliveira, atual secretário geral, e Sarah Nigri, em Encontro Nacional de Obreiros de 2022

Para encerrar esse período de transições, conversamos com Sarah sobre sua trajetória na ABUB, desde sua graduação em história na Universidade Federal do Espírito Santo até seus planos para o futuro, agora como mãe de dois.

 

ABUB: Como você começou a participar da Aliança Bíblica Universitária (ABU)?

Sarah: Comecei sem saber o que era ABU. Não tinha nenhum grupo filiado no Espírito Santo desde a década de 1980. Alguém tinha ouvido falar, achou o nome bonito e começamos a fazer encontros com estudantes cristãos na universidade. Só que Deus vai preparando as coisas, a iniciativa é dele. A gente acha que está retomando, começando, mas é Deus que já tem tudo preparado. Então, Deus enviou três abeuenses de Minas Gerais para o Espírito Santo. Eles viram os cartazes da ABU na universidade e nos procuraram. Foi quando a gente passou a ter mais ideia de que ABU não era só nosso grupinho e um nome bonito. Fizemos contato com a região Leste e a nacional. Eu fiquei muito encantada com a abordagem da ABUB! O obreiro da época tinha doutorado, eu nunca tinha visto estudos bíblicos feitos de forma tão contextualizada e toda essa intenção de dialogar com a universidade.

 

E você continuou…

No início eu participava do grupo de estudo bíblico meio perdida, mas ao conhecer outros aspectos da ABUB fui ficando apaixonada e fui me envolvendo. Foi a primeira vez que eu tive contato com essa premissa de que o estudante pode fazer o estudo bíblico, pode ser o líder, não precisa ser um pastor. Isso era muito novo para mim.

 

E depois da graduação?

Fui fazer mestrado e continuei apoiando grupos no Espírito Santo, participando de eventos regionais e nacionais. Me tornei assessora auxiliar. Fui trabalhar na minha área, trabalhei também com políticas públicas na prefeitura. Algumas pessoas já vinham conversar comigo sobre a possibilidade de ser obreira, mas eu tinha muito receio de me tornar obreira com a motivação errada. No Instituto de Preparação de Líderes de 2011, lá em Anápolis (GO), me deu um clique. Achei aquilo tão maravilhoso e entendi que Deus estava me chamando. Depois de participar no mesmo ano da Assembleia Mundial da Comunidade Internacional de Estudantes Evangélicos (IFES, na sigla em inglês), me inscrevi no programa de discipulado e serviço. No processo, o secretário geral da época me escreveu e me convidou a conversar sobre assessoria diretamente. Fui convidada para ser obreira na região Sul, na época junto com a Manu. E comecei em 2012! Fiquei lá por quase três anos. Foi uma experiência maravilhosa.

 

Sobre esse tempo de assessoria na região Sul, foi um tempo de pioneirismo e de reativar alguns grupos. Quais os pontos fortes que ajudaram?

Pude contar com estudantes que estavam bastante entusiasmados e desejosos de fazer o trabalho na universidade e nas escolas. E também os assessores auxiliares, contei com uma rede muito boa nos três estados. Eu gosto muito de trabalhar em equipe, então eu teria muita dificuldade sem o apoio deles. E o protagonismo estudantil! Tive o privilégio de participar de uma época em que os estudantes tinham muitas boas ideias e iniciativas, tem de dar corda mesmo e confiar no trabalho que eles fazem. Eu não fazia sozinha o trabalho logístico, tínhamos o apoio das famílias, o que construía uma relação de confiança. Atividades criativas também atraíam muito os estudantes. Também pude visitar e receber o apoio de muitas igrejas.

 

E então você se tornou secretária geral*…

Eu ia casar e me mudar para o estado de São Paulo, me coloquei à disposição do movimento para servir na região ou de outra forma. Nessa época, fui convidada a participar do processo de seleção da secretaria geral. E acabou acontecendo. Foi um momento de percepção de ter uma equipe nacional com mais pessoas, pensando numa Secretaria Executiva ampliada, que pudesse trabalhar com diferentes projetos, e com uma boa sinergia entre os participantes. E eu tive o privilégio de passar muitos anos sentindo bastante harmonia na secretaria executiva!

Quatro pessoas cabisbaixas em oração. Uma mulher no canto da foto, cortada, e um homem ao fundo, desfocado. No centro, um homem ora ao microfone colocando as mãos sobre uma mulher.

Reinaldo, secretário geral da ABUB até 2014, ora por Sarah Nigri na ocasição da sua aprovação no Conselho Diretor de janeiro de 2015

Você passou oito anos na secretaria geral, e muito tempo com a mesma equipe. O que você acha que vai levar contigo dessa experiência?

Para mim uma marca muito grande com a equipe como um todo é a generosidade. Eu sei que meu nome não era esperado para a secretaria geral, mas eu me senti bem recebida e acolhida. As pessoas sempre foram muito generosas, muito pacientes. Tenho muita gratidão por isso. E deveria ser assim mesmo! Em todos os níveis do grupo local ao receber pessoas novas, ao passar o bastão, ter essa paciência e ser generoso com quem está chegando é importante. Essa disposição para escutar e aprender uns com os outros. Lembro do [vice-presidente honorário da IFES] Ziel Machado falando que nossa fraqueza e vulnerabilidade é espaço de ministério do outro, então o outro vai aprender com isso e você vai aprender com o outro. Também tenho muita gratidão pela abertura e liberdade de poder falar, contar de nós e orar uns pelos outros. Quantas lideranças eclesiásticas talvez não tenham isso! A gente não exerce liderança no ministério estudantil sozinho. Isso é uma bênção! Não temos esse modelo de personificação, “a organização é do Fulano”. É muito bom poder servir em comunidade e como comunidade.

 

E como foi o processo de saída?

Foi uma saída planejada. A maioria dos secretários gerais ficam em torno de oito anos, então eu já vinha pensando e conversando com outras pessoas sobre. Me parecia um tempo bom. Também percebi que tem surgido novos desafios para o ministério estudantil, a universidade mudou muito. Eu percebi que já tinha oferecido o que eu podia oferecer, e que talvez a ABUB estivesse precisando de outro perfil. Renovação é uma coisa boa! Eu via muito também na nossa equipe de obreiros pessoas com perfis muito bons e antenados, com mais conhecimento do que eu sobre o que está rolando. Fazia muito mais sentido dar espaço para novas lideranças.

 

E para além da ABUB?

Pessoalmente, eu estava com vontade de fazer outras coisas. Queria ter tempo para estudar inicialmente, fazer um mestrado fora, mesmo que fosse online. Mas aí veio a [minha segunda filha] Alice e interrompeu os planos (risos). Mas eu ainda não desisti das ideias! Estou com vontade de poder investir em outras áreas também.

 

Antes de sair você deixou um trabalho, resultado da Secretaria Executiva e Diretoria Nacional, que é o planejamento estratégico para os próximos anos. Vamos aprofundar isso neste 2023. Fora isso, o que você gostaria de deixar para o movimento e para o Thiago, o novo secretário geral?

Confiar e investir na iniciativa estudantil, dar espaço para a criatividade deles. Acho que muita coisa boa surge e ficamos surpresos com o tanto de coisa que Deus faz a partir daquilo que um estudante no grupo local começa a fazer. Eu vi muito isso na região Sul e me traz muita alegria lembrar! Também poder dar o máximo de suporte para a equipe de obreiros, valorizá-los. Eles fazem muita diferença! Eu não teria tido toda essa trajetória se não fossem pelos meus assessores auxiliares lá no comecinho, que valorizaram até as coisas malucas que a gente fazia. A nossa equipe dos bastidores também merece muito reconhecimento, é um trabalho invisível que as pessoas não têm noção da complexidade. O movimento deve dar suporte e as ferramentas que essa equipe precisa para otimizar o trabalho e viabilizar a missão na ponta.

 

Você comentou como a universidade mudou. A ABUB, seu modelo de pioneirismo estudantil e engajamento com a universidade ainda é relevante?

Sim, com certeza. Tudo isso que falamos que marca: a generosidade, o acolhimento, o trabalho em equipe, a empatia. Por mais que as coisas tenham mudado, e tecnologicamente tem vários avanços e ainda terão mais, aquilo que é humano sempre se mantém. As tecnologias sempre vão carecer do que é essencialmente nosso, como as amizades e os relacionamentos. O nosso trabalho ser baseado nesses elementos de companheirismo, empatia e cuidado faz com que só a gente possa oferecer isso. E é o que as pessoas mais precisam, de escuta. Com certeza tem relevância e vai continuar tendo espaço, vão mudar ferramentas e maneiras de produzir conhecimento, mas essas necessidades básicas que temos do outro e de encontrar em Cristo significado e sentido, isso vai continuar. Isso não muda. Vale a pena participar disso.

 

*Na ABUB a Secretaria Executiva é o corpo de assessores que atuam na gestão da equipe e do movimento. A pessoa que está na secretaria geral atua como líder deste grupo. Já a Diretoria Nacional, eleita nas Assembleias Gerais, é composta por profissionais e estudantes que voluntariamente apoiam a ABUB em sua governança, atuando próximo da Secretaria Executiva.

 

Leia esta e outras histórias, bem como confira nossa prestação de contas anual, no Entre Nós de 2023. Baixe em nosso site!

Gostou do conteúdo?

Compartilhe nas redes sociais e faça mais pessoas conhecerem a ABUB.